segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Valsa Silenciosa nº1

a dor parece doer mais no silêncio
é difícil manter-se vivo forte obtuso
uma ponta da faca entrou sem querer
talvez ali em algum momento já estivesse

a dor me entrou feito agulha quando
se vai tirar sangue me espetou
me sugou e me encolhi

assustei-me ao me olhar no espelho
minha cara estava inchada
meus olhos pareciam explodir

no silêncio é que se escuta o vazio
que se deixou
eu achei que havia música lá dentro
mas acabou o disco
eu achei que havia dança ali
mas nossos pés doeram
e nossas mãos se soltaram
pego desesperadamente na mão
das pessoas e nenhuma é
a mão quente que há pouco dançava

- me desculpe, fulano, me enganei
- perdão, senhoricta, confundi

um baile de máscaras
todos alheios
os vestidos são alheios aos corpos
os colares quase se quebram
os cabelos sobrevoam a cabeça
as pessoas não se encostam
devem cheirar mal
devem estar num sono profundo
enquanto a música fora toca
mas lá dentro é um silêncio

me volto de súbito
e de novo me encontro
agarrada a nada
encolhida pobre

- jogaram essa menina aqui, alguém diria.
- mas olhem, quanto amor em seu rosto

pedaços de papel sujos
molhados de uma coisa
que eu não sei explicar

não há o que dizer
o que se pensar?
sentei-me no degrau
da porta da frente
era frio era cinza com luzes laranjas
perdi
eu perdi

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