oh, você conhece alguém
essa pessoa é linda tem um sorriso
elegante que te engole
o queixo parece esculpido
ela é simpática, tem uma conversa bacana
vocês se identificam de imediato
vocês simpatizam se apaixonam
tem tesão querem trepar
fazem amor fazem juras de amor
fazem comida e comem juntos
bebem fumam se chupam
vão ao cinema e depois andam pela avenida
falando sobre o mundo e sobre a vida
sobre a sociedade sobre literatura
enquanto isso as outras pessoas passam por você
talvez despercebidas
talvez com cheiro de fumaça de cigarro ou
mau hálito a cidade passa você
com luzes amarelas dos postes
luzes de farol de freio de celular
os números do seu celular se resumem a
apenas um o resto são fantasmas
ou alguns com rostos mais ou menos definidos
seus olhom brilham seu coração dispara
você tem falta de ar borboletas no estômago
e a voz dela é linda te embala num sono
e vocês acordam com os braços entrelaçados
as pernas uma por cima da outra
a mão bulinando o sexo os seios
a língua no pescoço
e o dia lá fora passa tão rápido
você ouve os cachorros na rua você ouve o caminhão de gás
você ouve o caminhão de lixo passando uma buzina
uma bicicleta
enquanto está olhando para o teto encostada com a cabeça
na cabeça dela os cabelos se confundem o suor secando no lençol
você faz massagem passa creme lê poesias
escreve poesias ouve músicas melosas
vocês dançam juntos
num tango ou valsa vão a padaria
e compram mortadela queijo e pão
vocês tiram fotos viajam se beijam na rua
dão as mãos se olham fundo
profundamente
e então de repente
como o dia vira a noite
e o sol já está do outro lado do mundo
vocês se desconhecem e
profundamente
não se olham mais fundo as mãos não se dão
na rua as pessoas se beijam e sua boca está sozinha
as viagens se desfazem em pequenas fotos no fundo da gaveta
o pão o queijo a mortadela emboloram
a padaria continua lá intacta
a valsa se desmancha em sons inaudíveis
não há mais com quem dançar
as músicas melosas doem a poesia dói
é tudo sobre dor
você faz massagem nos seus próprios pés
passa creme no seu próprio corpo
na fronha seca um suor seu de pesadelo da madrugada
você encosta a cabeça no travesseiro e olha para o teto
pensando no absurdo de estar só
não que não fosse um absurdo estar com alguém
o caminhão de lixo a bicicleta a buzina o caminhão de gás
continuam passando enfadonhamente todo dia
e sua cabeça ainda está encostada no travesseiro
seus braços entrelaçam o cobertor
as pessoas continuam a passar na rua
o telefone não toca mais não há mais mensagens
não há mais voz linda te embalando
não há beijos juras de amor crenças discussões
cinema e pipoca filmes
não há gargalhadas corrida cócegas
não há transas chupadas mãos nos peitos língua no pescoço
não há
já não há queixo esculpido sorriso galante
apenas a ilusão de tudo o que foi
poeira
suor
absurdo
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