Hoje faltei do trabalho, não pude ir com essa cara de monstro, as pessoas assustariam. é falta de educação.
as pálpebras continuam grandes, mas já não cobrem mais os olhos. Fui ao mercado disfarçada de gente, comprei laranjas, leite, granola, absorventes, shampoo, condicionador, morangos, papel higiênico, cookies de aveia, sabonetes, pasta de dente, patê, torradas, miojo, vinho, achocolatado pronto, peito de peru, requeijão e talco canforado para os pés. Ganhei 3 cupons para preencher e concorrer a um carro, que estava embrulhado como presente na frente do mercado. Um senhor tentou cantar a menina pra ela dar um cupom a ele, mas ela disse que não, porque ele só tinha comprado laranjas e era preciso ter mais de cinquenta reais em compras. Pensei: Qual é, é só um cupom, dê a ele logo. Terminei de preencher os cupons, peguei minhas sacolas e vim embora escutando alguma música clássica de alguma rádio que só toca músicas clássicas, meus óculos caiam, o fone caía, mas cheguei em casa.
Acabo de ver minhas digitais impressas na taça de vinho. É um vinho bom, bem bom. Um chiclete grudado no papel desde a tarde, peguei pra mascar, ainda tem um gosto refrescante. Penso que as vezes as pessoas não querem ser cultivadas. Porque haveriam de querer? Me surpreendo sempre. Talvez eu queira ser cultivada, talvez não, talvez eu seja tão carente quanto todo os resto do mundo, e no final acabo mendigando carinho a mim mesma, é um saco, mas é preciso. E então fico babando aqui essas palavras que demoram pra sair, demoram meses, anos e no fundo eu sinto saudade disso tudo. Eu vejo um monte rostinhos lindos e me enjoa só de imaginar. Exatamente agora fiquei com preguiça das pessoas e com certeza elas teriam preguiça de mim também, não tenho muito a oferecer, minha voz é de criança e quase sempre faço mais perguntas do que afirmações, e elas sempre falam muito e eu sempre escuto mei ocalada, admirando qualquer coisa, talvez a beleza do brilho dos olhos talvez pense em qualquer outra coisa, mas funciona, as pessoas gostam de ser ouvidas. Mas eu nao tenho histórias interessantes nem grandes aventuras e os outros parecem se aventurar tanto em coisas que não entendo. Na verdade tudo é um mundo fechado e é um saco ter que participar de outro mundo de novo, tudo outra vez, mas depois passa.
Acho que quando eu tinha 17 anos tivesse muito mais coisas a dizer, porque eu não entendia muito bem o que era a vida, mas dentro de mim borbulhava uma coisa única. Tanta coisa se passou e continuo com aquela angustia pairando numa nuvem que paira em cima da minha cabeça. As vezes me perco nos muitos caminhos que sou e me descubro sempre outra coisa nova que era, por acaso, reflexo do que fui ou nunca tivesse sido ou apenas quisesse ser. Lembro de ter feito uma carta a alguém que fosse me conhecer ainda e eu estoua chando que essa carta será eterna. Lembro também de receber carta dos meus amigos imaginários, e devo ter criado alguns pra poder passar o tempo comigo mesma e era divertido, um foi viajar pro Havai e nunca mais voltou. Não é absurdo? Tão absurdo quanto acender um cigarro sabendo do câncer, tão absurdo quanto acreditar fielmente em alguém.
Já é a segunda taça do vinho bom. Ao mesmo tempo que pertencemos a tudo que nos foi dado, também pertencemos a nada nem a lugar nenhum muito menos pertencemos a alguém. Mas.
Eu queria ser virgem e poder transar pela primeira vez na vida. Já passou, passou, eu nem me lembro ao certo. Os corpos se tocando é um milagre divino, se é que há alguma divindade e se é ainda que se pode acreditar.
Aquela menina bonicta e tão aquém de suas expectativas, com um belo sorriso, toda padronizada, boa família, um emprego fixo em alguma multinacional de merda, uma moça quase pura em sua imaginação quando de repente não mais que de repente, depois de ouvi-la por quase uma hora sobre seus medos e desenganos, descobre que ela colocou... silicone nos seios. Ah, eu quase fiquei vermelha se não fosse um disfarce muito sei lá o que, por que diabos ela não disse " você quer ver como ficou?". Engoli seco e continuei a ouvir sua paixão por alguém que não sei quem é, antes fosse eu, mas eu precisava ir embora e com certeza, por algum motivo, eu não daria tão mole assim. risos e ironia.
Olha, to achando essas redes sociais muito chatas. Que porre, que porra, que saco. Todos à merda, bem no meio da bunda com um celular conectado na puta que o pariu.
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