sábado, 28 de março de 2009

Um momento, um céu irreal

"E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu descontentamento"
Tarde de sexta-feira. Outono. O céu azul limpo sem nuvens. Um friozinho e um calor que saía mais da gente do que da natureza. Esperou-me na rodoviária com uma rosa muito digna, por ser rosa (vermelha) e por ter vindo de mãos tão amáveis. Saí do ônibus e lá estava, ao banco, óculos de sol, a rosa num canto. Desci. O coração na boca querendo gritar a saudade imensa, meus passos tortos, meu sorriso meio doce, meus olhos meio espanto. Abraçamo-nos... um abraço meio desengonçado, eu arcando, minha mochila atrapalhando, cherei a rosa, mas não tinha cheiro. Não que ela não tivesse, mas eu não senti de imediato. Queria mesmo era tê-la em meus braços o mais rápido possível, senti-la toda minha, quente, fatigada, enchente de beijos-molhados-gelados-de-água.... E tive-a.
A tive sim, com direito à musica. Não clássica, nem violinos e piano, orquestra também não. Que seja, pegamos o primeiro bonde e já nem ouviamos a música. Eu a ouvia, cada respiração, cada batimento, cada som da minha boca no pescoço, das nossas bocas em comunhão.
Sabe, eu ainda não acredito.
- Me belisca.
É surreal de tão bem que ela me faz. De quanto aquele cabelo cheiroso me deixa nas nuvens e aquelas costas macias me deixam no espaço. Meu Deus, porque não descobri isso antes? Era um Nada que eu vivia ? Onde estava nossa bolha? O céu se volta para nós como um servo se volta para sua ama. Como escravos abanando o faraó com folhas enormes e uvas na boca. Usamos dele... você não pode entender, nem mesmo ela, mas eu sinto que temos alguma nuvem que nos deixa bem naquele azul celeste, porque partimos pra outra dimensão e levitamos no ar como uma... como uma pipa brinca de ser pássaro. E isso tudo eu sinto como você jamais poderá sentir.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Olho-te, logo existo.

"SE UM DIA OCÊ SE LEMBRAR ESCREVE UMA CARTA PRA MIM, BOTE LOGO NO CORREIO, COM FRASES DIZENDO ASSIM, FAZ TEMPO QUE EU NÃO TE VEJO, QUERO MATAR MEU DESEJO, FAZ TEMPO QUE EU NÃO TE VEJO, AI QUE SAUDADE SEM FIM.."

E foi assim mesmo que ela me mandou só tive o trabalho de copiar e colar. Como se tudo agora fosse apenas saudade. Tudo saudade. O cheiro-saudade, os cabelos-saudade, o pensamento-saudade, minhas mãos-saudade eu-ela-saudade. Eu, na minha bolha cor cáqui, era inteira pesando a falta que ela me faz.
Também porque eu disse que é uma delícia ficar olhando pra ela enquanto ela trocava de roupa e secava os cabelos, que eu acho tão maravilhosos cada fio, cada encaracoladinho que se prega na minha face, cheio de doçura e...e calor. É assim mesmo, eles se pregam em mim, e os meus nela e os nossos se unem e depois se soltam e se embaraçam entre si. Mas eles embaraçam porque, meu bem, é muito simples, eles não querem se soltar dos meus, mas ai de alguma maneira eles se soltam e ficam por assim dizer, tristes. Porque é uma delícia te ver depois de cabelo molhado e secando-os e eu te olhando e você fixamente olhando para seus fios. Ah, que saudade. Agora eu aqui, me peso toneladas de te ter ausente, enquanto você aí, olhando signos do zodíaco e a combinação touro+ sagitário, pra ver o que temos em comum e se a papoula pode nos ser útil. No meu é ,pelo menos, mas nada de tão surreal. Surreal mesmo somos nós no calor imenso e borbulhante. Isso não se diz nos signos. Nem diz que eu gosto quando você sussura no meu ouvido, nem que sua boca é linda ...e então eu fico pegando nela com meu dedo indicador e pensando " tão linda e tão minha" e eu viajo nos pensamentos bons que você me trás e depois você me acorda perguntando " o que você está pensando? queria saber os seus pensamentos..." e você tão boba nem tem noção de que me faz tão bem que nem eu tenho noção. Nem imagina que fico pensando universos de coisas de como sua boca pode ser linda e o seu sorriso me cativar quando estamos com os rostos bem pertinhos e fechamos e abrimos um olho e depois o outro e eu sorrio, voce sorria e nos beijamos beijamos beijamos beijamos beijamos....
Eu poderia mesmo ir até aí agora, escrever na sua parede, desarrumar sua cama e pedir um copo de água. E você me mostra onde tem copo e eu sedenta, mais de você do que de água, bebo pra que eu não borbulhe tanto de amor e de saudade.
Eu queria mesmo é dizer que se um dia, você não aguentar de saudade, estiver assim, no auge de pegar um trem pra cá ou de entrar no computador pra sair aqui junto d emim, você pode ler essas palavras, que são só nossas. Apenas...! Que é tudo que eu tenho pra amenizar a distância,enquanto esperamos dias para nos verms e voltarmos ao nosso ninho imaginário de amor e decabelos sedoso. Suspiro, na esperança de passar tudo muito rápido, mas só o tempo que não estamos, porque quando estver com voce quero que passe tão lento quanto séculos e séculos.

E séculos e séculos... eu vou me enrolar nos seus cabelos e nunca mais soltar.
E séculos e séculos... isso vai estar aqui, que é pra você.
Porque... eu já disse, é uma delícia te olhar.

terça-feira, 3 de março de 2009

Já não sou mais o que sou




Fico feliz por saber que tudo o que passei e pensei e dramatizei me fez hoje ser diferente do que eu era. Poder acompanhar-me numa mutação constante, ver e sentir como meu coração já não bate mais tão denso e poder respirar sem ligar se vou sentir teu perfume ou lembrar da sua respiração.

A última gota d'água caiu no meu queixo. A sede era absurda e perder essa última gotinha fez de mim um poço de calor humano. Era a última... Não tive a densidade boa de curtir meu calor numa garrafinha velha com água gelada.
Eu mudei. Mim uto. Mi nuto. Min uta.

Emmmmmmmmmmmm

Hein?
Está um calor insuportavel e minha capacidade intelectual está zero. Como nos dias de minha infância, eu ainda podia andar nua pela casa e me molhar no tanque. Hoje tenho que pensar mil coisas, embora eu tenha a fadiga de pensar em nenhuma. E eu já sou um vazio. Nem gotas d'água me preenchem mais. Como se de minúsculos poros vazassem água e alma e pensamentos. Vazo eu nos poros. A carcaça de um... um animal. Não deixo de ser um.

Ligo o ventilador no último, mas ele parece esquentar mais. Ele joga o vento quente nas minhas costas e minha cabeça segue uma tontura desigual. Desagradabilissima. Mas eu já não escrevo de como era bom ter você com a cabeça no meu colo. De como era bom acariciar seus cabelos e sentir teu perfume... porque isso foi há muito tempo, meu bem. E eu só quero que saiba que tudo aquilo não foi falso, mas tambem não foi real. Foi algo entre o meu amor que eu achava único e pesado e o seu desejo único imediato. Foi entre o meu achar e o seu repentino. Mesmo que eu escute Chico Buarque e sinta o cheiro de Dove na pele de outro alguém, não vou me afugentar nos pensamentos que levam a você. Nada. Podem bater palmas agora, meus senhores. Podem jogar confetes e serpetinas para o pierrot desapaixonado. Ele agora é um palhaço do Circo du Soleil...saí do picadeiro de beira de estrada. Eu gosto de escrever. Sempre me entupo de palavras. Eu me alivio em doses esporádicas de letras.

Letras, meu futuro próximo. Minha única esperança. Meu projeto de vida...!



Senhoras e senhores, apreciem meu eu mutante.