"E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu descontentamento"
Tarde de sexta-feira. Outono. O céu azul limpo sem nuvens. Um friozinho e um calor que saía mais da gente do que da natureza. Esperou-me na rodoviária com uma rosa muito digna, por ser rosa (vermelha) e por ter vindo de mãos tão amáveis. Saí do ônibus e lá estava, ao banco, óculos de sol, a rosa num canto. Desci. O coração na boca querendo gritar a saudade imensa, meus passos tortos, meu sorriso meio doce, meus olhos meio espanto. Abraçamo-nos... um abraço meio desengonçado, eu arcando, minha mochila atrapalhando, cherei a rosa, mas não tinha cheiro. Não que ela não tivesse, mas eu não senti de imediato. Queria mesmo era tê-la em meus braços o mais rápido possível, senti-la toda minha, quente, fatigada, enchente de beijos-molhados-gelados-de-água.... E tive-a.
A tive sim, com direito à musica. Não clássica, nem violinos e piano, orquestra também não. Que seja, pegamos o primeiro bonde e já nem ouviamos a música. Eu a ouvia, cada respiração, cada batimento, cada som da minha boca no pescoço, das nossas bocas em comunhão.
Sabe, eu ainda não acredito.
- Me belisca.
É surreal de tão bem que ela me faz. De quanto aquele cabelo cheiroso me deixa nas nuvens e aquelas costas macias me deixam no espaço. Meu Deus, porque não descobri isso antes? Era um Nada que eu vivia ? Onde estava nossa bolha? O céu se volta para nós como um servo se volta para sua ama. Como escravos abanando o faraó com folhas enormes e uvas na boca. Usamos dele... você não pode entender, nem mesmo ela, mas eu sinto que temos alguma nuvem que nos deixa bem naquele azul celeste, porque partimos pra outra dimensão e levitamos no ar como uma... como uma pipa brinca de ser pássaro. E isso tudo eu sinto como você jamais poderá sentir.
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