quarta-feira, 26 de novembro de 2008

T e R : - Ensurdecedor -

Ao amanhecer, acordamos de súbito,olhamos o relógio e pensamos,com aquela cara de tédio, sono e cansaço : " Mais um dia..." Mas ainda não é hora,ainda falta 2 horas para 6 e meia da manhã,mas sua cabeça ainda está lenta,seus olhos grudados e a boca amarga.
Ela sabia que tudo nela era absurdamente sensível. Seus olhos eram os mais sensíveis: à luz, ao movimento e às cores. Sem contar que, ao olhar pessoas, tudo era trasmitido a ela. Um toque que fosse,do dedinho mínimo da mão, fazia brotar um vulcão de sentimentos. Sabe,hoje em dia alguém tem que sentir. Não dá mais para viver nessa superficialidade robótica tecnológica de século XXI. Literalmente, ode ao Interior Humano e à Sensibilização dos Sentidos.
E se ela sentia,tudo assim, à flor da pele. Imagina os ouvidos como não ficavam ao escutar o despertador.
Trrrrrrrrrrrrrrrrr - TTTTrrrrrrrrrrrr . Como se não bastasse aquela balbúrdia toda durante 9 horas naquela empresa de meeeeerrrrrrrda.
Trrrr trrrrrrrr BLÉM.
A mão voa no pininho. Agora sim tinha que acordar. Agora sim ela diz :" Mais um dia..."
O quarto numa penumbra. A persiana fragmentando a luz que passava e ela,em si, sentia-se fatiada . Close na faixa de luz nos olhos,meio abertos,meio fechados. Depois a mão passaria lentamente para ofuscar a luz e limpá- lo...
Se ela gostasse de alguém seria... seria do colega de trabalho que viajou à trabalho. Foi pra Natal, enquanto ela agüentava o caos urbano de São Paulo.

- Sortudo !

Sentia o perfume dele de longe. Pisava na frente do prédio e ... quase desmaiava. Tanto pelo perfume, quanto por não ter tomado café da manhã. E há tempo?
Porra,alguém tem que sentir. Sentir a fome concreta. Desmaiou...mas foi porque um táxi a atropelou em plena Av. Paulista. Sentiu,pela primeira vez a cabeça quente e fervendo (geralmente seu coração fervia e latejava) .

- Pulso?
- Reanima,reanima!!!

Ela sentiu o gelo de uma mão que a tocava. Era a dela mesma.

Pi pi.... piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

Tudo aquilo foi como uma explosão à 3 centímetros do ouvido.

-Reaniiiimmaaa!!!

Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
Morreu.
- Sinto muito.
- Sinto-me muito. - como um plasma verde olhando em volta
E ela, a última sentimental da face da Terra, foi o fim da espécie humana. Ninguém a salvou.
Sentiu?
TTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
O caminhão jogando terra.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Acima de tudo: nós





" Quem é que tem pudor quando gosta?"



Essa é a pergunta da Alaíde na minha boca.

Todos têm pudor?

Até onde somos capazes de ir?

Uma mistura de ganância,egoísmo e impudor.


Eu quero ver até onde chegamos.







quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Naquele tempo de praça.

- É ruim envelhecer,neh?
- Nem tanto...Mais ruim ainda separar dos amigos.
Enquanto eu conversava com meu amigo que mora em São Paulo,lembrávamos dos velhos tempos de beber na pracinha de cidade do interior. Meninada em peso. Aliás,mais meninos do que meninas. Eu,quase a única. Tempos de colégio, de marcar de assistir filme na casa de alguém, tocar e cantar na praça. Pouco tempo atrás,mas parece que nossa vida passa num piscar de olhos.
...mas parece que nossa mente escorre sobre o tempo.
Mais ainda é ver cada um ir pro seu canto. Trabalho,faculdade, outras pessoas.
Cada lembrança boa. Risadas intermináveis.
E se eu pudesse fazer tudo de novo,eu faria.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Piando

Piu piu piu
lero lero
Piu
Lero
Lero Lero

Piu
Um piu
Dois piu
Piu piu
Lero lero piu

Afu! Fu fu fu!
Piu!

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Um acontecimento qualquer

O cheiro de laranja na minha mão.
Sabe,quando chupa laranja
e fica cheirando a mão
mesmo lavando.
.lavando mesmo
mão a cheirando fica e
laranja chupa quando,Sabe
.mão minha na laranja de cheiro O

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

- Vou Te Levar -


- Um dia,quando nos conhecermos, eu vou ficar com você até você enjoar de mim.

- Vou me colar em você.



E se por um acaso se levassem pra sempre? ssssssssssssssss

Nem cola,nem sinal,nem nada os pararia. Nunca. Nunca mesmo,como se isso fosse uma lei,nem tese,nem teoria. Lei . Assinado e reconhecido firma,digital posta e ainda um beijo com batom.

A Lei do Para Sempre. Como um poção mágica.Um conto de fadas .


-" Não queremos mais nada nesse mundo."


O que os prende longe? Separa-os ?

A vida nos escapa como uma ave assustada.


Eu vou te levar pra sempre comigo.

Vou te levar ...vou te levar

Levar-te-ei . Vou sim.

No longe,no abiiiiiiiiismo entre dois extremos.




terça-feira, 11 de novembro de 2008

Um Lapso de Giratória

Gira e gira e gira com o vestido branco rodado. No meio do terreiro . Lamaçal. Lambuza o rosto.
Gira e gira e gira com o pé pequeno marcado. Um círculo do giro. O rosto lambuzado.

Câmeras. E a gente move o mundo numa lente. Ou somos nós que nos movemos?
Somos nós que nos movemos?
Tudo que eu vi não é o todo absoluto. Nem eu sou um todo absoluto de um eu eterno.

Gira e gira e gira. Tudo o que eu queria era girar.
" Roda mundo,roda gigante,roda moinho,roda pião,
o tempo rodou num instante nas voltas do meu coração"
Nem que eu caía e o meu vestido se rasgue. Que eu caía e o meu vestido se rasgue e rasgue junto a minha pele. E rasgue junto a minha mão e o sangue seja borbulhante colorindo o vestido branco e marrom. E caia a chuva e venha o sol,venha vento e me amarra num lençol. Ata-me no linho e na seda. E o pé gire o corpo. E o corpo gire tudo. E o tudo gire em nada.
" Faz tempo que a gente cultiva a mais linda roseira que há
mas heis que chega a roda viva e carrega a roseira pra lá "
Espeta o espinho no meu braço e vê se ele sangra. Gira a roseira,gira o espinho,gira a roda viva.
A vida rodou. Eu rodei também. O que eu tinha agora é pó. O que eu tenho agora é vida.
A roda viva. " Ai,que me gira".
- Ô,sinhôzinho,quié que caiu aí?
- Foi o meu fumo,sinhazinha.
- Foi o teu fumo,foi?
- Fumo eu.
- Fuma você.
- Fuma você.
- Dá cá que fumo eu.
E ela ...ela .... ele... nós...você...é,é você. Sumiu. Sumimos. Rodou.
- A roda viva rodooooou.

domingo, 9 de novembro de 2008

Acordando





É tudo mentira. Eu sei.





sábado, 8 de novembro de 2008

Será que é pintura?

-O seu sorriso é seu ou é de quem o vê?

Deixa eu te contar,antes de você ir dormir,que você me é tão bela,e isso você já sabe,porque não me canso de dizer isso,mas é que não tem como não dizer. E como você me disse que estava lendo textos,depois do meu silêncio quase absoluto, quis que você lesse isso. Isso...porque não é um romance aos moldes de José de Alencar, mas,queria que tivesse algo pra você,já que a distância me é obstáculo para te entregar algo em mãos.
Aliás, deixe-me dizer outra coisa: Você fica linda de cabeça para baixo com os pés na parede. Mas mais linda ainda como uma fada encantadora no meio do Pantanal. Isso é sério,não me leve por brincadeiras.
É que as coisas acontecem assim,de súbito,que nem deu tempo de respirar e eu já estava assim,quente quente e paralisada conversando com você.
Será que você tem ursinhos e dorme abraçados com eles? Só vi um sapo invejado por terceiros.
O que é você?
Se eu estivesse em fumaças diria que era um quadro surrealista de Dali,não? Com certeza. Depois te daria tapinhas para sentir se você era de geléia mesmo. Mas,é muito mais além,ou muito mais simples do que eu imagino.

-Meu Deuzu!

O que é tudo isso? Todos os menininhos te entregam alianças? Como eu disse,azar o deles. Ou sorte.
Que eu quero te ver dançar todos os tipos de dança, até a dança da chuva, que você vai parecer uma atriz de cinema,ou uma super modelo nas lentes da minha camera.

Uma flor. Uma luz nos olhos.
O seu sorriso é .... ? ? ?


palavras num papel de pão
é a sua sinceridade bela
é a sua malandragem única
é a sua mistura de Estados
o seu cheiro que eu não conheço

? ? ?

É um dilúvio de sentir-se bem.
Que é o que eu sinto quando converso com você.
Silêncio Absurdo

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

- O(s) Mundo(s) -

O que é que podemos fazer no mundo das palavras?

- TUDO .

Posso até espancar a minha mãe . ( Menina espanca a mãe) .
É como uma peste. Peste. Ou não. A Peste pode rolar apenas de um lado.
Mas eu,a menina espancou a mãe dela. Bateu a cabeça. Chutou e pulou.
Irreverente? Criminosa?
Hipócrita aquele que diz que nunca fez isso. Ou pelo menos dizer que nunca teve vontade.
A menina morre de ódio. O menino é ... um nada. Não interferiu. Porque se a menina quisesse
também o espancaria. Viraria notícia de jornal depois. A imprensa toda caindo em cima.
Sabemos que isso é sensacionalismo da mídia. Todos adoramos ouvir notícias trágicas.Por que somos no fundo (falsos) moralistas e não fazemos nada de errado. Queremos na verdade, ver o inferno alheio para podermos ficar intactos no nosso pensamento corrosivo e infame.

- Eu cansei de hipocrisia e superficialidade.


" O inferno são os outros"

Jacqueline




Ela queria escrever.Escritora deve ser interessante. Quem sabe ser nada e sair pelo mundo como uma garota que sabe apenas o nome da rua onde mora. Dezessete anos e passava horas e horas na escrivaninha,pensando e rabiscando papéis. Idéias iam e voltavam. A luz fraca,a cadeira dura,a mão num tremor de angústia.

Jacqueline, deixe-me pensar, poderia ter cabelos muito compridos,ou cabelo curto com um óculos moderno listrado de vermelho e branco no aro. Jacqueline é a menina que eu queria conhecer. Jacqueline deve adorar se aventurar nela mesma. E é também o que eu quero,aventurar-me nela. Será mesmo que ela usa óculos de aro listrado?

A vida dela é uma música deliciosa que me deixa a pensar se eu também não tenho trilha sonora. É calmo no começo,e eu percebo que a vida dela não é tao monótona assim.

Ivor poderia ser um suposto namorado. Mas creio que o rosto dele,apesar de bonito,esconde muitas infamias. E Jacqueline deve adorar maltratá-lo. Internamente é claro. Ela não seria capaz de tal ato assim,explicitamente,numa ferocidade animal e instinta. Quem sabe,talvez,um dia isso não acontecesse. Um dia,sim. E seria o dia.

Ivor é um bêbado marginal adolescente. É um mauricinho também. Entende? Hipócrita. Jacqueline não chegaria a tal nível.

Disseram-me de um conto,escrito por ela, no qual Ivor morreria de overdose.Overdose psicológica,porque ela falaria tantas coisas a ele que o deixaria completamente drogado. Uma droga psicológica. Nada de química ou erva natural. São palavras. Palavras que o atingem. Era Igor no texto. E Jacqueline era ela mesma,nua e crua na sua sanidade insana de escritora.



"É sempre melhor no feriado/Muito melhor no feriado/É por isso que nós só trabalhamos quando precisamos de dinheiro"



É claro, trabalhamos com a única finalidade de nos incluirmos no sistema capitaista consumista selvagem. E Jacqueline não era completamente inserida nesse meio corrosivo. Mas,como qualquer outra,ela também tinha suas necessidades. Vendeu um de seus contos. Um,apenas um,e ganhou breves considerações com algumas notas,que ainda teve de voltar troco. Gregor. Ivor. Jacque-line. Dezessete anos nesse drama individual.


- Quero conhecê-la - digo a mim mesmo.


Talvez um dia. Ela agora,limpa a lente de seus óculos com aro listrado. Embaçado e engordurado. Enxuga o suor escorrido nos olhos com as costas da mão. E pensa que,se um dia ela tivesse que morrer por alguma coisa,esa coisa seria liberdade. Porque ela acreditava piamente na Liberdade. Batatinhas ou dinheiro?


- Jacqueline?



"É sempre melhor no feriado/Muito melhor no feriado/É por isso que nós só trabalhamos quando precisamos de dinheiro"



O que querem dizer com isso? Feriados são castos e entediantes. Não são entediantes porque são castos,mas são castos por serem entediantes. E a única coisa que ela fazia era escrever e escrever e matar as pessoas de overdose psicológica. Feriados ela ganhava dinheiro. Saía de casa muito raramente e bebia com os amigos. Não que ela adorasse fazer isso sempre,nem que gostasse de bebidas alcoólicas,mas,se eu a conheço pouco,ela faria isso por pura tridimensionalidade vital. Coisa que eu ela não faria escrevendo. É como se o mundo real fosse o mundo literário. E vice e versa. Mas ela precisa de dinheiro... e toma leite e limpa o óculos.

Jacqueline morreu mesmo aos dezessete anos. Overdose literária. Pelo menos na vida real...ela deixou confundir-se. É facto que ela ainda vive. Claro que eu não queria que ela morresse. Aliás,eu ainda nema conheci.



"Ela pode te retornar o rosto que você está encarando"

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Borra a lente o espelho me nega

O espelho não mente quando falo pra ele que o que me prende é essa maldita ressaca pornográfica. Basta observar essa cara deformada em mil pedaços humanos,com o olho remelento,o lápis e o batom borrados.

Ele me pergunta: " O que você sente agora?"

E se eu respondesse,eu o teria partido em mil pedaços. Mas diria que eu sinto absolutamente nada. E é pra sentir? É só pra gritar e achar que está dando tudo certo.Que a vida é supimpa e que tudo vai às mil maravilhas.
Porque,se você não sabe,meu anjo, as pessoas são o paraíso sem problemas. Mas espere,que tem alguém batendo na porta.



- Quem é?



Ninguém responde,apenas batem numa frequência absurda entre desespero e desejo.



- Quem é? - pergunto novamente num ar entediante



Ninguém responde. E agora pararam de bater.

Não vou atender mesmo que agora digam quem é. Aliás,o meu discurso na frente do espelho era muito mais interessante. Pelo menos pra quem adora maritirizar-se com uma bela maquiagem a lá Coringa. Digaaam-me,borboletas do banheiro,o que te prendem aqui?
Se eu soubesse o que me leva a fazer as coisas. A energia que me impulsiona,esse espelho berrante batendo na minha cara dura e borrada. Oito horas de trabalho é pouco.Muito pouco. Pouco em vista das outras 5 que passo me olhando. Mas não é narcissismo não.Não,por favor,não pense isso. É que eu tento encontrar alguma coisa que valha a pena eu continuar. Uma pinta que seja. Uma pinta para ver se sou eu mesma.
Tudo bem,tudo bem, canalhas são para sempre.

- Quem ééééééé?

Batem novamente na porta.Mas não respondem,que queremque eu faça? Morra?

Mais forte ainda.

- Porra,meu,o que é? Vai falar quem é ou vai ficar essa putaria aí?

Resolvi que vou abrir. Em passos lentos. O corredor me pareceu outro agora. A porta quase num estrondo. O espelho em mil faces. O relógio em loucura dilatada. Afinal,que porra é esse que fica batendo?

- Porra,mew. To indo.

-Estava indo mesmo,mas lentamente. Curtindo cada passo,cada assoalho,cada respiração. Um ódio de ouvir aquele barulho.Que batesse mais,demoraria mais para abrir a porta.

- E agora? - pensei.

Abri.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Falsas Juras de um Falso Amor ps: Te amo


" Juntos chegamos num ponto coerente entre o que é amor e o que é você "


Óh,estrela cintilante do meu céu ! Sempre ou nunca mais?

Da última vez que nos vimos,senti-me afundado em uma areia movediça,como se eu ,e somente eu,sofresse por tudo que passamos.
Há mais de dois anos e você nunca me ligou. Não me respondia, a carta ficou intacta,não mandei. Sabia que você não ia ler,nem sequer responder-me numa aflição. E é pra ser assim e será.
Vai ser sim. Porque nós não temos mais nenhuma ligação amorosa,amigável,ideológica ou musical. Musical até sim,em certas partes,quando eu escuto trechos de músicas que escutávamos juntos e lembro-me que nada mais foi do que aquilo que vimos e sentimos. Nada além. Não nos aprofundamos no buraco negro,porque nem buraco nós tínhamos. Entende? Foi superficial. Mas eu queria tanto essa superficialidade novamente,porque com ela eu me sentia o falso mais verdadeiro da face da terra,eu era a futilidade bela com você.
O que é pra ser realmente é ?

- Eu te amo,xuxu!

- Também te amo,coração!


Olha como somos. Quase chegamos ao ápice do prazer e do amor. Quase...porque não tínhamos o buraco negro que nos fazia ser apenas nós,eu e você numa fusão.

Era eu e era você. Poucas,muito poucas vezes foram "nós" .

E eu me pergunto...o que é você sente agora? Você é assim mesmo. O passado não deve ter influenciado tanto na sua vida. Já faz muito tempo. E crescerei com isso. Crescerei pensando que nunca vou crescer,porque quando nos conhecemos éramos crianças,e eu ainda sou uma. Sou absolutamente parado no tempo. No espaço não,porque a distância,é facto,nos separa. Mas nada nos separa mais do que nós mesmos. Nada nos separa a não ser nossa ânsia de procurar outra coisa. E a gente procura e não acha. E nem vivemos essa desilusão que é procurar alguma coisa e não achar,porque nos prendemos miseravelmente um no outro como se não houvesse mais nada para conhecer ou amar.Nos prendemos sim,você sabe. Porque eu sei que você,apesar de toda essa sua aparência de auto suficiente,você ainda remoe gata grão de sentimento por mim.
Uma porra de uma aparência cretina que vivemos.
Mas,óh,olha,escuta,ouve,meu bem. Daqui pra frente pode ser que nos encontremos. Ou pode ser que nunca mais vamos nos sentir falsamente como antes. Pode ser que o mundo se volte contra eu e contra você e cada milésimo de segundo que vivemos,cada respiro pode nos afastar mais. E a nossa trajectória seja desviada a cada passo que damos.

E o amor que você havia me dito? A-mor? a-mor? a-m-o-r . Nenhum,definitivamente.
Mas eu,no meu muquifo fedorento que vivo,penso que algum dia,você voltará em minha direcção e dirá: Eu não sinto absolutamente nada por você. E será nesse momento que o nosso amor será o mais verdadeiro da face da Terra. Sabe,pelo menos você parou e pensou muito em mim até decidir que não sente nada por alguém que nunca sentiu antes. E o seu pensamento será todo meu,os seus olhos serão brilhos no meu olhar. E eu te direi com toda palavra e som:
Eu te amo.

Pêssego,suspiro e leite moça.

Nada como uma segunda-feira ociosa. Depois de uma semana intensa totalmente teatral,clowniana desencontrada e atores furados,vejo-me obesa e asquerosa comendo uma coxa de frango,aos moldes de Dom João.
Mas não é coxa de frango e nem obesa estou ainda. O pêssego adoça-me e a calda escorre no queixo.Quase que preciso de um babador. Lambuzo-me.
Eu não me conheço. Isso é facto. (lembra-se dos factos ? eles existem independente do meu pêssego em caldas) E eu não saber quem eu sou é o facto mais facto de todos os tempos que eu descobri há uma semana.
Imagina uma bolinha de gude. Uma bolinha de gude qualquer, transparente,pequena. Ela é a sua essência,é o seu eu verdadeiro,sem qualquer máscara. Agora imagina que essa bolinha,aos passar dos anos,vai adquirindo camadas de poeira,sei lá,cimento,ou outra coisa qualquer que tampe o material natural dela. Esa energias são as energias que tampam a sua essência . São como máscaras,energias de sedução no seu eu escondido. E chega um tempo que as camadas são tantas,que o buraco é tão fundo que não se pode encontrar-se. Toda essa contrução de anos e anos valeu para me esconder,para mascarar-me e sinto-me como uma verdadeira falsidade. Agora preciso descontruir-me para me encontrar. Virar tudo de cabeça para baixo e tentar ser o mais verdadeira. É aí que encontrarei minha essência,o meu clown digno e verdadeiro.
Eu quero,eu quero,eu quero.
Chego até a pensar se eu realmente sinto prazer em comer os pêssegos. Se um dia eu realmente fui verdadeira,se eu realmente perdoei alguém,se os beijos que me deram e eu retribui saíram da bolinha de gude ou de alguma camada. Queria sentir o que é verdadeiro pelo menos uma vez na vida. E se eu fui,foi-me tão valioso e grande ao ponto de eu resgatar?
Os pêssegos numa viagem incalculavel para chegar até minha boca e eu não dar valor a isso?
Vou para o buraco negro.
- É lá que eu quero estar.

Suspiro. O leite moça é complemento,uma camada.

E a sua bolinha de gude? Já é uma bola de basquete?