terça-feira, 11 de novembro de 2008

Um Lapso de Giratória

Gira e gira e gira com o vestido branco rodado. No meio do terreiro . Lamaçal. Lambuza o rosto.
Gira e gira e gira com o pé pequeno marcado. Um círculo do giro. O rosto lambuzado.

Câmeras. E a gente move o mundo numa lente. Ou somos nós que nos movemos?
Somos nós que nos movemos?
Tudo que eu vi não é o todo absoluto. Nem eu sou um todo absoluto de um eu eterno.

Gira e gira e gira. Tudo o que eu queria era girar.
" Roda mundo,roda gigante,roda moinho,roda pião,
o tempo rodou num instante nas voltas do meu coração"
Nem que eu caía e o meu vestido se rasgue. Que eu caía e o meu vestido se rasgue e rasgue junto a minha pele. E rasgue junto a minha mão e o sangue seja borbulhante colorindo o vestido branco e marrom. E caia a chuva e venha o sol,venha vento e me amarra num lençol. Ata-me no linho e na seda. E o pé gire o corpo. E o corpo gire tudo. E o tudo gire em nada.
" Faz tempo que a gente cultiva a mais linda roseira que há
mas heis que chega a roda viva e carrega a roseira pra lá "
Espeta o espinho no meu braço e vê se ele sangra. Gira a roseira,gira o espinho,gira a roda viva.
A vida rodou. Eu rodei também. O que eu tinha agora é pó. O que eu tenho agora é vida.
A roda viva. " Ai,que me gira".
- Ô,sinhôzinho,quié que caiu aí?
- Foi o meu fumo,sinhazinha.
- Foi o teu fumo,foi?
- Fumo eu.
- Fuma você.
- Fuma você.
- Dá cá que fumo eu.
E ela ...ela .... ele... nós...você...é,é você. Sumiu. Sumimos. Rodou.
- A roda viva rodooooou.

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