terça-feira, 4 de novembro de 2008

Borra a lente o espelho me nega

O espelho não mente quando falo pra ele que o que me prende é essa maldita ressaca pornográfica. Basta observar essa cara deformada em mil pedaços humanos,com o olho remelento,o lápis e o batom borrados.

Ele me pergunta: " O que você sente agora?"

E se eu respondesse,eu o teria partido em mil pedaços. Mas diria que eu sinto absolutamente nada. E é pra sentir? É só pra gritar e achar que está dando tudo certo.Que a vida é supimpa e que tudo vai às mil maravilhas.
Porque,se você não sabe,meu anjo, as pessoas são o paraíso sem problemas. Mas espere,que tem alguém batendo na porta.



- Quem é?



Ninguém responde,apenas batem numa frequência absurda entre desespero e desejo.



- Quem é? - pergunto novamente num ar entediante



Ninguém responde. E agora pararam de bater.

Não vou atender mesmo que agora digam quem é. Aliás,o meu discurso na frente do espelho era muito mais interessante. Pelo menos pra quem adora maritirizar-se com uma bela maquiagem a lá Coringa. Digaaam-me,borboletas do banheiro,o que te prendem aqui?
Se eu soubesse o que me leva a fazer as coisas. A energia que me impulsiona,esse espelho berrante batendo na minha cara dura e borrada. Oito horas de trabalho é pouco.Muito pouco. Pouco em vista das outras 5 que passo me olhando. Mas não é narcissismo não.Não,por favor,não pense isso. É que eu tento encontrar alguma coisa que valha a pena eu continuar. Uma pinta que seja. Uma pinta para ver se sou eu mesma.
Tudo bem,tudo bem, canalhas são para sempre.

- Quem ééééééé?

Batem novamente na porta.Mas não respondem,que queremque eu faça? Morra?

Mais forte ainda.

- Porra,meu,o que é? Vai falar quem é ou vai ficar essa putaria aí?

Resolvi que vou abrir. Em passos lentos. O corredor me pareceu outro agora. A porta quase num estrondo. O espelho em mil faces. O relógio em loucura dilatada. Afinal,que porra é esse que fica batendo?

- Porra,mew. To indo.

-Estava indo mesmo,mas lentamente. Curtindo cada passo,cada assoalho,cada respiração. Um ódio de ouvir aquele barulho.Que batesse mais,demoraria mais para abrir a porta.

- E agora? - pensei.

Abri.

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