quinta-feira, 27 de maio de 2010

Eu que Ainda Outono Inconstante

Quando li "maio" no calendariozinho da geladeira, imaginei, repentinamente que ainda por essas bandas, no ano passado, eu não havia ainda te conhecido. Eu namorava e achava que, talvez, casaria e tivesse filhos com ela. Não tive. Nem sequer durou muito tempo, mas tempo suficiente para me acabar em lágrimas num sábado, às 6 horas da manhã. O dia ardendo de tão bonicto e aquela beleza toda me doía sozinha, porque eu queria que outros olhos compatilhassem comigo o outono. Era outono quando ela me deixou. E é outono agora eu olhando tuas fotos.
E é inútil eu dizer que o outono é uma das estações mais lindas...e é, afinal, e uma das minhas preferidas. Mas eu queria você e o outono tudo junto pra mim. Até agora não arranjei uma saída. Só em sonhos. Afinal, queria contar que tenho sonhado com você numa média de uma ou duas vezes por semana e são sonhos maravilhosos que te trazem pra pertinho de mim. Hoje sonhei que havia ganhado 5 mil reais. A primeira coisa que pensei foi em viajar... pra você, é claro. Aí acordei e não tinha mais nada. Algumas moedas, uma nota de vinte na gaveta e uma vontade imensa de sair sozinha pedindo carona. Sim, ainda me dói, não sei se mais ou se menos de quando estávamos juntas, mas dói e a saudade me corroe por dentro. Mas eu sorrio e sorrio sempre que te vejo ainda com esse ar de esperança, não sei, esse ar de que a minha bolha colorida ainda te guarda sem você saber e que te acompanha em qualquer lugar que você esteja. Um pássaro talvez. Nosso pássaro-leão que te segue e depois me traz os bilhetes escritos num papel invisível que só eu sei ler. E te guarda, te protege, te mima. Não, você não sabe. Desde quando você acorda de manhã, morrendo de sono e com a voz rouca (de como quando eu ligava de madrugada pra te ouvir) e come um bauru com café que você mesma faz, até a hora de dormir no seu edredon cheiroso de menina bela de cabelos macios. Até a hora de alguém te ligar de noite e você morrer de sono, precisando dormir pra acordar cedo no outro dia, e me acordava sempre às 9 horas da manhã, falando que você havia acordado faz tempo e essa coisa de quem trabalha cedo.
Maio. Quase junho. Lá pelo final de julho fui te encontrar, uma photo em preto e branco, namorando. Começo de agosto eu já havia caído no seu eterno veneno silencioso que me envolveria e me prenderia até agora, até depois, até quando o outono insconstante de dentro de mim se tornasse uma linha pontilhada. O seu cheiro, o seu olhar, sua risada maravilhosa e os beijos que mandávamos na madrugada, quando todo mundo já havia dormido e eu ficava fazendo caretas pra você. Queria muito, imensamente, que as coisas fossem diferentes, mas pensei por um momento que se fossem diferentes talvez não tivessem a beleza e a dor de ser assim como é. De ter essa esperança. De poder te esperar e não saber se é ou se não é, se vai ser ou se vou te esperar pelo resto da minha vida lendo tuas cartas cheirosas sem cheiro e amareladas. Quantos outonos ainda terei de passar sozinha e não compartilhar com você a folha seca pra pisar, a flor pra roubar. Compartilho isso todo dia, mentalmente, mas não sei se isso me cabe e tento justificar pra mim mesma, porque dói e dói e dói tanto, que a dor passa a tomar conta e fazer parte de mim, na esperança de um dia não ser mais dor. Na esperança de te encontrar e se transformar em alegria de tudo que eu guardei só pra você nesses tempos de distância.

É maio. Eu ainda não tinha te conhecido. É outono. É céu azul e inconstante em São Paulo, tempo de chuva, frio, calor... tudo que lembra a mim, tão inconstante como essa cidade selvagem. Continuo vendo tuas photos divididas em categorias, uma mais linda do que a outra, eternizando o teu sorriso que nunca mais encontrei em lugar nenhum, eternizando o teu olhar, a tua expressão calada, séria, alta... teu rosto e paixão que nunca saem de mim. E eu não quero que saia nunca.

Um comentário:

Anônimo disse...

"(...)você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente"