Acordei, já com um nó na garganta. Meus olhos mal abriam. Um silêncio, lá em baixo alguns poucos carros passando. E me dei por conta que era realmente aquilo mesmo que aconteci. Meu corpo inteiro pesava muito na cama, e não era só saudade, era uma dor imensa, que eu havia já sentido antes, era uma dor, era saudade, era dor, era saudade, era mentira, e eu queria muito fosse mentira. Meu estado era de choque. Estava anestesiada e andava arrastando meus pés. O dia estava maravilhoso, um céu bem azul e um sol brilhando, as árvores bem verdes, mexiam-se quando o vento batia. Mas em mim estava tudo nublado. Era sábado. Era São Paulo. Mal tinha dormido as poucas horas que consegui. Preferia dormir o dia todo. E eu estava sozinha. Mais uma vez sozinha. Mais uma vez, como nos velhos tempos, eu voltaria a viver a sós comigo, eu voltaria à minha auto idolatria. Mas no momento meus olhos só conseguiam verte água. E não qualquer água, era densa e quase sangrava, tinha resíduos do meu coração em pedacinhos mínimos, resíduo de um amor deixado. Enquanto eu sentir tudo isso, vou continuar escrevendo, mais para eu ver o que sai, do que por vontade de voltar. Vontade de voltar no tempo e tentar concertar, pausar, congelar, beijar, amar menos, ou ter amado muito mais. Deveria ter amado muito mais. Assim meu coração estaria inteiro despedaçado e não haveria viva de minha pessoa, qualquer tipo de vida que fosse. " mas o coração continua" Vou levar sempre essa frase comigo. Consolo na praia. Um dos mais belos e ... confortantes poemas. Estou bem, e queria reforçar esse meu estado sadio, meio sombrio, meio saudoso. Eu estou bem sim. Mas não posso negar que ainda há tudo dela em mim. Restos.
Estava lendo as cartas, e não me conformei, por alguns instantes, que tudo isso tenha acabado. Foi como um palhaço rindo da minha cara e dizendo: " Onde está ela agora? Hahahahaa. Cadê o ' eu te amo e será assim para sempre'... que ' para sempre'? Hahahahaha " e me deformava, com uma maquiagem escorrendo pelo rosto, um nariz enorme de palhaço maldito.
Sinto-me como se alguém bem gigante e forte tivesse me torcido, como uma roupa mesmo, e tentasse escorrer cada gota de lágrima e amor, mas alguma bolsa interna em mim ainda guarda tudo, não sei até quando. Pode ser que dure apenas mais algumas horinhas, e eu estaria livre de novo. Semanas, meses... mas ANOS não. Não vou me permitir a isso. Meses também é muita coisa. Agradeço se for mais uma semana. Estou aproveitando tudo isso. Nao sentirei de novo esse sentimento, e é bom que o amargue na minha vida, que o curta ao máximo e depois o deixe livre, longe de mim, muito longe de mim. Respirei fundo e pensei que no que faria hoje. Ando comendo muito e isso foi mais por instinto e hormonios, do que por depressão pós término. Se eu pudesse, olharia bem nos olhos e diria: Obrigada pela paixão que se apagou ( em você). E agradeci tudo o que passamos. Agradeço pelo que passamos, pela dor, pelo amor intacto ainda, pela saudade que me corroe. E agradeci veemente por tudo, cada beijo, abraço, olhares e lágrimas que derramou por mim, de crocodilos que fossem, mas eu acreditei piamente que tudo iria dar certo, que um dia olharíamos para traz e veríamos que nada foi em vão, mas que eu estaria com você, ardendo em fogo, comendo teus cabelos e rolando em mato com sarna.
Tive duas chances. A primeira desisti por conta própria. Na segunda, com a mesma felicidade que me foi dada, também foi-me arrancada às unhas, às pressas, numa incrível madrugada de sábado, no último dia de outono. Teve-me nas mãos. Tinha-me ardente, crescida, mudada. Mas eu também a tive. O facto é que não nos temos mais. A verdade é que não temos ninguém. No final você sempre vai ter que contar com você mesmo.
Eu estou bem e essas terapias de escritas andam me fazendo um danado. Tenho descoberto cada vez mais que no fundo, o que não nos mata, nos fortalece, velho ditado. Que afinal, eu sentia falta de não escrever tão intensamente assim, com dor à flor da pele, com Amor e Saudade. Amor Dor e Saudade. São essas que têm me acompanhado ultimamente. E não reclamo tanto. Um dias elas acabam também, se transformam, migram para outro corpo, outra alma, outros olhos que me olharão e me verão em luz divina, e os verei em luz divina também e nos encontraremos novamente. Num outro livro. Outro rascunho que seja. Estou procurando não errar com essa caneta que fixa muito bem as palavras. Mas não me importo, qualquer coisa eu risco e continuo em frente, como uma redação que só se tem uma hora para ser escrita. E toda minha vida resumida em uma hora. Uma hora e tudo acaba. Terei outras para escrever. Experiência nova. Experiência própria.
Estou bem, e quero gritar isso ao mundo.
- Olha, como me sinto nova, nenhum rasgo, nenhum furo. Por dentro tudo O.K e meu exame de eletrocardiograma não constatou nenhum bombardeio físico. Minha mente anda saudável e a prova disso é tudo o que sinto e escrevo. Eu sinto dor, eu choro, saudade mora em mim, meu Amor é Amor mesmo, não seio que é Paixão, e outro dia até paquerei outra pessoa. Posso concluir: sou humano.
E os pássaros voltam a cantar.
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