Não pude deixar de pensar que toda aquela menina linda, que um dia me veio como um furaçao me fazendo perder em vento, vai ser de outras pessoas, ou apenas de uma outra pessoa qualquer, que encontre em qualquer muquifo da Augusta. E vai se perder em outros corpos, como fazia comigo, e sentirá prazer em outras bocas, outros olhares, outras mãos a afagarão e outra linguá sentirá as lágrimas dela. E vão sorrir feito bobos, ela vai dar aquele sorriso encantador e desconcertante, que vai fazer a outra pessoa se sentir nas nuvens e brilhar os olhos. Depois vai telefonar, com aquela voz de quem acabou de acordar, e pedir para se encontrarem. Estacionará o carro e ela virá abrir o portão, balaçando os cabelos dourados, procurando a chave, os olhos se protegendo do sol. E abraçará, disfarçadamente para que não percebam que entre eles tem um grande romance e que dormem juntos. Outros corpos se encostarão no dela, quentes, frios, mais novos, mais velhos... outros cabelos ficarão no lençol. Outras palavras, que não as minhas, vão entrar pelos ouvidos dela, e a farão se deslumbrar. Outras vozes a dirão que a amam, e falarão besteiras no ouvido, um grito, um gemido contido, e ela dirá bem baixinho eu te amo - e dormirão como se não fossem mais acordar, porque o tempo parou naquele momento, ela vai posar para outras fotos, outras frutas mordidas, embalos de rede, enquanto alguém termina as fases do jogos que eu tanto adorava jogar no celular dele que não havia nenhuma foto minha, mensagens que já foram apagadas, e outros celulares receberão as mensagens pornográficas e tão amáveis, milhares delas, quase entupindo tudo a caixa de entrada. Outras mãos acariciarão a face dela, talvez nenhum dedo cutuque o nariz, que sorte, e ela vai usar a bota por cima da calça, e andará fazendo barulho de tênis molhado. E então alguém virá, vai fazê-la boba e amada e feliz, e ela virá, depois do banho, linda e cheirosa, com um perfume de cupuaçu, e se entregará inteira, corpo e alma, amor, paixão, fogo, absolutamente inteira para um gosto surreal. E vai falar que está com frio e outros braços a esquentarão, outros braços... outros, não estes, já vazios, já sedentos, já saudosos. E ela fará surpresas inesquecíveis, dará balinhas e cestas de aniversário, sumirá por um dia inteiro para que outros possam sentir o gosto incalculável e beleza única que ela tem, de um monte de coisa boa tudo junto numa pessoa só.
E ela vai ligar, morrendo de saudade, enquanto outra pessoa faz outra coisa num lugar bem longe, e sentirá que o tempo passa muito rápido quando se ama, mas que o tempo é cruel quando se está separado.
E aquela menina, que um dia me beijou, num bar qualquer de alguma cidade pequena, vai tomar coragem para beijar outras pessoas, e depois vai ignora-las ou simplesmente se declarar de coração aberto, de alma limpa, de um novo amor que surgiu, ou um único amor, porque pode ser que os que passaram ela tenha pensado que fosse alguma coisa, fosse realmente só uma coisa. E outras declarações virão, outros textos novos, não estes, velhos empoeirados, sem valor alheio, não meu, não intenso nem dolorido e sim alegre e risonho e sonhador, se farão impressos, versos e mais versos, ou nada... pode ser que os outros não gostem de escrever, ou que se iludam com outras coisas supérfluas.
Aquela menina, não minha, nem de ninguém, do vento, do destino, dos impulsos, verá outros olhos brilharem por ela e acabará e talvez o pra sempre chegue
talvez não.
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