quarta-feira, 15 de julho de 2009

Detalhes

Eu sentia falta de observar minuciosamente as pessoas. Seja quem for. Eu tinha essa integridade de me doar em olhos e prazeres pequenos. Nada de extravagâncias, nunca exigi o máximo das pessoas, talvez nem de mim mesma, mas sempre me apeguei aos detalhes infames: um tom de voz, uma cor dos olhos, cílios e principalmente os sorrisos. Pois eram os sorrisos que sempre me deixavam no chão, me batiam dolorosamente. Mas eu sempre gostei de estar no chão com alguém me sorrindo. Se alguém me desse um tapa, eu pularia e aí sim me fazia enorme e forte. Era indefesa aos caprichos e elogios.
Houve uma época que decidi não ser tão densa. Eu queria tudo pra mim, entende, queria entender as pessoas e imaginava como era ser elas, o passado e o futuro que estava por vir. Eu me enchia de pensamentos possíveis e impossíveis. E depois me quebrei com isso. Não quis mais nada, quis me encontrar no meu fundo, mas descobri que eu me encontrava tentando entender os outros. Na verdade meio a meio. Quero descobrir os detalhes, porque as coisas grandes já nos são explicítas, já nos batem na cara, mas as pequenas coisas, essas precisamos afundar inteiramente e descobrir de onde vem a maioridade. E escrever e escrever e escrever, como nos velhos tempos. Vamos achando maneiras de nos encontrar e temos de driblar essas coisas que não vemos que se constroem aos poucos, demorado, e caem por terra, segundos depois de descobrirmos.
Senti-me calma hoje, serena, não esperando muita coisa do dia. Vou ler muito e sentir cheiro de livros. Senti-me esperançosa no fundo, uma coisa boa, nada de cobranças e perguntas com ou sem respostas, eu simplesmente respirei e tentei me manter assim, tranquila e alegre. Viesse o que viesse, fosse o que fosse, eu estaria inteira, meio se desequilibrando mas sempre me mantendo no meio fio.
Não exigia muito da fome nem do sono. Não exigi nada de ninguém. Sempre me contentei com migalhas, delas que viemos, para elas vamos. Mas me esforcei muito para não me dar em migalhas. Doesse muito, mas eu estava lá, inteira, me sentindo um mundo.
Não peço nada. Um abraço só. Uma coisa bem bonicta, uma palavra profunda como "caneca". "Você é minha caneca"
Café com leite. Pão com manteiga.

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