Mas mesmo distante ela guardava com todo calor aquela rosa vemelha. Mordia, beijava, cheirava, aspirava quase todo seu perfume. Mas ela nunca ficaria cinza. Ela nunca perderia a beleza e paixão. E o tempo, 'ah, o tempo... o tempo brincava comigo', me escurraçava, me flagelava em praça pública. Mas eu não desistia e fingia sorrir pro universo quando ele me maltratava.
Mesmo longe ela era quentinha. E a saudade batia, me pegava, não tinha jeito. A saudade é o pior castigo.
Mesmo longe eu te guardo absurdamente quente dentro de mim e ninguém te tiraria do meu pensamento e nem do meu coração. Chorava, às vezes, quietinha, porque queria que não chovesse mais pra não lembrar que ela gosta de guarda-chuvas, mas eles apareciam, de todas as cores, mais os pretos, em forma de protesto, em sinal de luto, e ela resistia. Comprei um guarda-chuva colorido. Pendurei no meu quarto junto com a rosa, pra que ele faça sol o dia todo em cima de mim. E ele te esperaria com os braços abertos, falando seu nome bem baixinho, que era só para os dois escutarem, ninguém mais. E a dor iria embora, a saudade não existiria, o pensamento não mais longe, mas grudado na pele quente, como tatuagem.
Sonhei que te beijava nas costas, bem em cima da borboleta. Ela lembraria que há muito não sonhava, mas viveram juntas no sonho. Passei as costas da mão no teu rosto, ronronei, passei minha cabeça no teu pescoço, senti você comigo, como sempre sinto, porque pra mim era impossível te tirar de dentro. Era impossível destatuar uma paixão assim, como ela, que a tinta chegava a cobrir o corpo inteiro, o espírito, a essência.
Era impossível, e ela não queria, que evaporasse esse perfume tão gostoso, essas mãos macias, essa dor alegre de esperá-la, essa tristeza esperançosa 'de um dia não ser mais triste'
E mesmo longe eu te cobria com meu corpo e te protegia dos furacões terríveis que invadiam nosso pensamento. Eu te levava café na cama, eu sorria vendo tua face serena, dormindo, os olhos calmos repousando, e te beijava a testa, te pedia em casamento, bem baixinho, pra você sonhar com isso e pensar que era sonho, quando era realidade e pensar que era realidade o que era sonho. Mas que diferença fazia?
Que uma rosa só é uma rosa quando encontrava outras. E eu te encontrei, e te reguei com todo meu amor e cuidado, e virei uma rosa junto com você e isso ninguém podia negar, ninguém podia querer destruir nosso jardim quando ele está intacto fervoroso pulsando o vermelho do nosso sangue. Ninguém, nem nós mesmas conseguiriamos não ser mais jardineiras, quando borboletas saiam do meu peito, encontravam suas costas, beijavam nossos lábios.
E ela queria que soubesse todo esse buraco negro da saudade que cortava como água gelada da piscina, cortando aos poucos a nossa carne, mas nunca nos acostumaríamos. Eu tinha que extravasar de alguma maneira. E ficava olhando tuas fotos com cara de paisagem, imaginando o que foi, o que não foi, o que vai ser, e se preparava para madurar e estar (in)completa só pra ela, inteira, com o cabelo descuidado, ainda mais lion, ainda mais dela, como nunca, como sempre.
A rosa dela era minha também.
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