No balanço da cabeça, acompanhando o movimento da rede e das plameiras que sacudiam com o vento, ela pensava se um dia a vida iria estacionar. Mas aonde? Mas com quem?
Angústia não era. Ela estava sozinha e às cinco da tarde o céu começava a ficar laranja, começava a se por atrás daquelas árvores imensas que moravam na frente da sua janela alta. Alguma coisa antiga tocava no rádio. Ela gostava, se sentia numa época, uma época em preto e branco ou laranja mesmo, com a saturação das cores um pouco baixa, meio cinza. Afinal, ela tinha que ver beleza. Não, ela via beleza. Porque ter de fazer alguma coisa deve doer demais. Ela via beleza... e estava alegre, contente. Quietinha ela brincava com o bailar do corpo, uma nota na guitarra, uma página de livro, uma foto. Uma flor. Rosa vermelha desabrochada que doía igual sangue escorrendo. Vermelho vermelho vermelha.
Ainda no balaçando da cabeça. O pulso baixo do coração. Fumou um cigarro, por pura graça, perguntou se fumava e disse que não, pois não tinha mesmo este vício. Depois comentou que dava barato aquela fumaça. 'Engole fumaça do escapamento, biscate'.
Canalha. Agora é com ele. Pensou muito nessa palavra. Ca-na-lha. Não que ele fosse, mas surgiu. E se fosse? Não engolia fumaça de escapamento pelo menos.
Um rock n roll no rádio. Scorpions. Delirava. E você ouviu eles tocando com a orquestra sinfônica? Derírio. Hurricane. Pulava pulava pulava que nem louco, balaçançava a cabeça, as palmeiras, o sol, UHHHHHHHH, caía de súbito no sofá, fungando, respirando todo o ar da sala. Roda, volta, air guitar.
Vida bandida. Olhava lá fora pela fresta da janela. A música abacou.
Um banho, quem sabe, pra afogar o dia de alegria debaixo da água. Purificação diária.
Alegria é momentânea? E a tristeza?
Vai tomar banho.
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