Olá, senhoras e senhores membros do júri.
Cá estou entupida de coisas a escrever, mas não consigo, nem organizei minhas ideias. O que virá logo mais não é senão minha mania de cuspir as palavras e ver o que sai delas, mas como disse, ainda há muito o que desentupir, ainda há as ideias para recompor. O ano está acabando e espero fechá-lo com todas as palavras que eu necessito. Quero palavras novas, mas ainda há tempo...!
Hoje o sábado amanheceu muito bonicto. Ouço de longe algumas marteladas que parecem perturbar no fundo, mesmo quando não se sente tão directo assim. Meu cabelo está mais comprido, minhas unhas também maiores, meu rosto parece o mesmo com pitada de canseira de fim de ano e meus olhos continuam se alargando. Hoje acordei com o meu irmão entrando no meu quarto para pegar alguma coisa, deduzi que ele tivesse ido pegar o documento da moto... e era mesmo. É, eu tenho uma moto e adoro quando pego aquela avenidona imensa, correndo muito, e sentindo o vento passando por mim muito rápido me deixando o cabelo lá longe e o rosto bem gelado...
Meu rosto gelado sente o impacto quando depois encosto em um rosto quente, ou quando eu coloco minhas mãos nele, num gesto meio de esquentá-lo e segurá-lo para pensar na vida da amargura. Mas nem tudo é amargo... e nem tudo é doce. Que bom! Embora eu tenha deixado minha vida muito mais adocicada, ou pelo menos tentado, eu senti mesmo o amargo em muitos quesitos que consideramos importante para se manter um equilíbrio - momento não irei citá-los. Agora não sei medi-los.
Passei a mão nos olhos e ainda senti algum resíduo de ramelas. Minha boca sim está amarga porque eu ainda não escovei os dentes, mas preciso comer primeiro e já estou pensando no bolo de iogurte da minha mãe. Eu gosto muito desse bolo de iogurte dela. O dela, pois nunca comi os outros. Ela fez o bolo porque sabia que eu viria embora e eu amo quando ela faz essas coisas. Quando chego tem bolachas e bolo e sorvete e flan com calda de frutas vermelhas que ela compra e me fala pelo telefone quando estou prestes a vir, que ela cozinhou feijão e eu amo feijão, muito mais quando é cozido na hora. Adoro mesmo a panela de pressão pegando pressão e o cheiro de feijão se alastrando pela casa.
Mas nesse sábado tão belo, chamando-me e quase pegando meus cabelos, não posso ficar a olhar o teto. Talvez eu possa. Mas lembrei-me dos pinheiros e pensei em caminhar por entre eles. Andar, fotografar, recitar poemas que eu lembro de cor, sentar em algum tronco e olhar a imensidão azul... quanta beleza! E então eles me escutariam como meus melhores confidentes, porque é meu confessionário adolescente e um pedaço infantil, de quando eu ia com a minha mãe e o meu irmão, nós dois pequenos, caminhar entre os pinheiros. E depois eu voltei para eles, os braços abertos e o peito cheio. Depois eu voltei, crescida e tendo nos olhos aquele brilho confuso de dentro pra fora e de fora para dentro - eu nunca sei.
Mas esse sábado... se ele soubesse que algo aqui me incomoda. Aqui dentro, eu digo. Um cisco. Um balbucio incompreensível. Esse sábado nos pinheiros. O que são as luzes fragmentadas pelas folhas que me guardam? O que eu quero dizer com tudo isso? - senhores, saiam enquanto é tempo. Larguem-me mais uma vez, que eu quero esse dia iluminado iluminando meus olhos cansados. E eu quero sorrir com todo esse calor do sol. Mas o tempo, o tempo voa longe... e voa longe muito longe de mim. Se ele soubesse...
Que esse sábado me guarde!
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