Senhoras e Senhores
compradores de pepinos
Façam-me o favor de aliviarem minha barra ano que vem. Sem muita ironia do destino, sem o tempo brincar comigo, me maltratar e me dar pontapés.
Hoje sou um bicho do mato. Do mato da minha casinha. Posso ronronar se quiser. Soltar minhas garras pra fora. É fim de ano. Fim de ano é um pé no saco. Vou furar o saco com minhas unhas pontudas depois andar calmamente, espichando meu rabo, até o meu potinho de leite, bebericar e dormir... mas isso até a meia noite de manhã. Depois serei outra. Posso evoluir para uma onça ou pantera... ou uma calopsita - mansa.
Posso ser qualquer sorvete também e me derreter na sua boca. Naquela boca, ou na outra ou na minha mesmo, sem problemas. Posso ser uma... música? Uma cor? Seria o branco e o vermelho. Hoje eu seria o calor de dias nublados. O mormaço. Depois me queimaria e deixaria minha pele ardendo, como sempre fica, e passar aquele creme pós sol refrescante e ligar o ventilador bem nas costas. Sabe, aquele sono e fome depois da piscina? Vontade de dormir na rede.
Vontade de um colo bem macio acariciando meus cabelos. Uma água de côco, um copo de leite puro e gelado. Um ventinho pra acalmar. Um humour de luz do sol bem amena. Mas o ventinho... quase fecha meus olhos e me faz sorrir um canto, cansada, fatigada... mas não triste. Um colo pra eu deitar, uma mão passando bem de leve no meu rosto, e eu com os olhos fechados sorrio com muita preguiça, quase dormindo - entre as nuvens do amor ela dormia -, sentindo um perfume de flores que vem lá de fora, nesse vento abençoado.
' Vinhas fatigada e triste e triste e fatigado eu vinha' , mas não estou triste hoje. Estou calma. O que é bom, afinal. E posso também, se quiser, sentar embaixo de um coqueiro ou palmeira bem alta ( o vento precisa estar presente- mas é um vento fraco) e tocar violão, sozinha, num imenso deserto de areia.
Penúltimo dia, meus senhores. Acho isso tão estranho. Eu sempre fico pensando o que eu fazia no ultimo dia do ano do ano passado. E fica aquela brincadeira de: meu último banho do ano, essa roupa que vai virar o ano comigo... e nada muda, na prática. Mas a esperança é sempre a mesma, e nossa noção do que vai acontecer é zero.
Eu posso ser também um cadeado... acabei de ver um aqui na minha frente, e ele parece alguém em coma. Não, eu não poderia ser um cadeado. Vou continuar sendo uma gacta, preguiçosa e com sono. Malhada, simpática e acariciando a perna dos outros, de estranhos que chegam em casa - se chegasse alguém- da minha mãe, da minha avó... e então pulo em cima da minha cama e me deito com os ursinhos que nela habitam. E durmo, junto deles, num silêncio de bairro calmo, na metade dessa última quarta-feira, na metade de desse dia preguiçoso.
Miau!
grrrr
Nenhum comentário:
Postar um comentário