sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Prelúdio

Como escreverei um romance se tenho preguiça de passar do terceiro longo parágrafo? Oh Céus. Que dilema. Que ambição.
Aguei-me no chuveiro, em prantos, lunática, escrevendo no box abafado as letras inicias do meu romance inexistente. Ou era o nome dela? Meu amor?
Não me daria nunca mesmo pra isso. Desista, pensei, me autoafogando no prelúdio do meu fim. E agora?
Nem romance, nem amor, nem nada. Até acabou a energia quando eu estava repassando minha cabeça ensaboada de champu. Ainda faltava o condicionador... e estava frio. Merda. Gritei, gritei gritei, griteeeei. Não tinha ninguém em casa mesmo, mas metade da rua ouviu, com certeza. Se o vizinho peida no banheiro dele eu ouço do meu quarto enquanto leio qualquer coisa, uma inspiração talvez. E ainda o casal de vizinhos brigando, em xingamentos agradáveis que vai desde biscate a vagabunda, coitada, pra senhora que já tem mais de sessenta, costura o dia todo e nem tem tempo de biscatear, antes tivesse. E sim, ouviram-me, desvairada, lunática, preludiando. Sai respingando, porque ainda tinha esquecido a toalha no varal. Corri na ponta dos pés, abri a gaveta e tinha um pitoco de vela. Está bem, muita calma. Respira. A toalha agora.
Ninguém ligou, nem um toque no celular. Essa força não voltava nunca, nem a eléctrica e nem a minha, berrei tanto que faltou sangrar a garganta, fiquei rouca, e tossindo.
Amém. Energia voltou. Meu romance não, nem começou. Talvez nunca comece. Eu já tinha até nome. Meu amor, meu amor ligou, está bem. Graças a deus. Diz que quer voltar pra mim.
- Eu também te amo.
E voltamos, sem romance, o meu, o nosso, ah, ah... o amor.

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