Quando você prendeu o cabelo em coque mostrando sua nuca macia e cansada que não cansei, nunca, de te olhar naquela luz verde de fundo que saía talvez de um motel qualquer numa avenida qualquer chuvosa, milhares de carros passando te embelezando ainda mais com sua luz dos faróis brancos-amarelos-vermelhos e freios, e você falava tanto e não me ouvia no meu silêncio do meu olhar que te comia, profundo, te cortava, quase queimava como faca em brasa, como marca. E você falava tanto e eu não ouvia sua braveza e você ficava mais brava porque eu te olhava com tanta paixão, talvez nunca eu tivesse te olhado assim, eu perdia o ar, meu fôlego, que triste eu era se respirasse tanto, porque eu gostava muito de chegar o nariz perto do seu pescoço cheiroso, já quase sem cheiro, depois do dia todo e era noite, nós naquela avenida movimentada, a chuva, meu amor, como você é linda, eu te olhava eternecida, os seus olhos, sua boca macia que me engole, seu queixo e pescoço e ossinhos do pescoço e seios lindos que me chamavam. Eu queria deitar no teu peito e dormir, dizer que te amo, queria chorar, queria te roubar e levar pra casa, já era hora, que saudade, as luzes respingando no pára-brisa que respingava em você as sombras das gotas parecendo uma pinta e logo sumiam, uma onça pintada, selvagem me devorando por dentro, eu bem sei, que você me devorava lá no fundo sem saber que eu te olhava. Minha vontade maior ainda era tirar sua camisa cor-de-rosa te beijar enlouquecidamente, o tempo parar, e rosear nosso amor sentir quente teus olhos brincando em mim, mas já era hora, porque se vai, em vão, cada segundo sem que eu possa, ao menos, colocando sob o céu infinito da noite, meu tempo parado em você.
E te beijei.
E fui embora. Já era hora.
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