segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Da garoa que resta

Que estado profundo é este?
Pode o dia estar lindo
o céu azular na minha orelha
o sol avermelhar meu coração
e a folha cair no peito
a gota esfriar o seio
e essa angústia
inútil
continua

Estou farta de alguma coisa
comida demais
amor demais
condições demais
e o medo é sempre demais que nunca sai
da fila de onde retira a senha
porque é preciso respirar

abre a janela e vem respingos restados
do céu
ainda não é noite
ainda é quase dia
rediar a noite para nunca tornar a vê-la
renoitar, talvez
mas a angústia sempre virá
as asas negras de borboletas noturnas
teimam em queimar na lâmpada
e faz calor
e me cubro

Quem será que toca essa flauta?
E esse cheiro de cigarro insano
enlouquecendo os cachorros que passam debaixo dos postes laranjas da rua
deserta
nada de moscas
nada de matos
nada de ar poluente que mate de vez
o medo

E lá embaixo, além de latidos
crianças se escondem atrás de carros abandonados
dedos passam pelo vidro sujo escrevendo o futuro
cru de alguém que o lê
alguém
os pneus murchos
o retrovisor quebrado
minha visão embaçada

e não resta mais nada
só o vento
que balança meu cabelo
zumbindo no ouvido
mais um noite que chega
é  medo

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