Oi, amigo, esse calor me perturba.
E me perturba não ter tido tanto tempo assim pra você.
O que acontece é que tudo está correndo, indo pralgum lugar que eu não sei, mas as coisas andam de vez em quando, umas coisas se encaixam, outras se reviram. O movimento natural da vida.
Tenho tantas coisas a escrever, sobre nada talvez, mas tenho muito a lhe dizer, muito a me dizer também, pôr essa literatura chocha em ordem de algo legível... ou ilegível.Compreensível ou incompreensível. Como quando não entendo a Beleza das coisas, como quando não suporto um calor denso mas ao mesmo tempo consigo sobreviver.
Quanto ao outono, está dando o ar de sua graça, colocando as manguinhas de fora. A rara estação mais linda do ano misturando ao meu sorriso.
Aspiro muitas coisas e muitas delas me enchem o peito como esperanças eternas de como quero que meu cabelo cresça. Por mais que ele demore ele vai crescer e vai ficar comprido, mesmo despontado. E eu vou olhar no espelho e sorrir por meu cabelo estar comprido e sorrir por que eu ainda sou eu mesma e não me perdi por aí em ruas escuras de desconsolo de vida, de solidão perjorativa que nos atinge. Mas nunca deixei de lado meu direito de estar sozinha, meu direito de solidão e recolhimento por opção, minha quebra social onde sinto o ar me enchendo, onde posso descalçar os tênis, tiorar as meias quentes e suadas do meu pé branco e pisar descalça no chão, a sola do pé mais grossa, o pé mais sujo e encardido.
Que beleza das coisas quando podem ser sujas. Quando volto à minha infância e me lembro toda suada e suja de tanto brincar na rua. Minha mão suja de comer salgadinho. Minha boca suja de chupar laranja e melancia, deixando o caldo escorrer pelo queixo, passando pelo pescoço e escorregando lentamente até entre o vão dos meus seios, depois passo o braço na boca para limpar a água e continuo a devorar cada gomo, cada semente crocante sendo mastigada. Meu prazer escorrendo por mim, minha sujeira exposta, minha delícia de poder me expor a essas pequenas coisas. Que delícia também lavar o rosto depois de caminhar por um longo tempo debaixo do sol. Lavar as mãos depois de pegar na terra. Beber a água e sentíla descer cortando a garganta seca.
Mas ainda há muito o que lhe dizer. É preciso de tempo para entender as coisas, ter paciência, ter esse comichão enfadonho atrás da orelha, na cabeça e resistir até conseguir beber a última gota d'água.
O calor está uma barbaridade. Acredite.
Acho melhor abrir a janela e deixar a brisa fresca da noite entrar.
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