quinta-feira, 18 de março de 2010

Bom Dia pra Ela

                            " É que o sol nasce pra você..."
                                                                                James Joyce

Mal o sol desponta  ela acorda com sono, o dia todo com sono, o dia todo tomando café com bauru. Perguntei: Você já foi pra Bauru? Não, ela me respondeu, e você? Eu também não, respondi.
Mal o sol desponta e ela ainda está enrolada no edredon cheiroso que a cobre com a maior honra de poder ser o edredon dela e o corpo dela cobrir e ser somente dela, ter o cheiro dela, alguns fios seus grudados nele, a forma do teu corpo, seu amanhecido olhar abrindo lento, atrasado pra ir trabalhar. Mais um dia. Quem me dera eu poder ser aquele edredon que a cobre, quem me dera ser o café que ela toma, a xícara que ela põe os lábios, a água que molha a boca. Quem me dera ter seus fios grudados em mim, a forma do corpo dela no meu. Quem me dera, meu deus, por minhas mãos entre as dela e aperta-las para nos fazermos uma só.
Eu ouço a voz dela com sono e imagino que estou bem do ladinho dela. E morro sozinha de tamanha beleza na rouquidão amanhecida daquela voz de moça bela, minha moça, meu bom dia moça.
Debaixo do teto que ela dorme tem passarinhos cantando alegremente pra ela acordar feliz, tem cheiro de flores o quarto dela, tem um anjo que a guarda e eu sou um anjo que a guarda daqui, que posso voar com asas que ela me deu, porque ela me faz voar, e eu canto pra ela com minha voz de criança de 12 anos, com minha desafinação descarada e boba e ela me acompanha nas nossas canções que fica uma harmonia desafinada de nossas vozes misturada com um sussurro de cada lado, meu e dela, e cantamos e cantamos, e às vezes eu fico quieta pra ouvir só a voz linda dela e aí deito a cabeça na cama, suspirando de alegria, explodindo de saudade. Eu canto pra ela de manhã. Eu falo com minha voz rouca de manhã, porque ela me insiste em ligar logo cedo, quando acorda, e eu não acordo tão cedo quanto ela, mas ela me liga, e eu não me aborreço por ela me acordar cedinho, mas falo alô e volto a dormir. E aí eu sonho com ela. Esses sonhos da manhã. E no sonho eu a beijo com tanta paixão, no sonho ela me olha boba e eu mais boba ainda feito uma criança que acabou de descobrir um esconderijo infantil no terreno baldio ao lado. Meu esconderijo. Meu esconderijo apaixonado.
Quanto ao sol, ele merece ser citado. Ele merece porque é esse mesmo sol que ilumina ela e me ilumina também. O mesmo sol, incrivelmente o mesmo sol, surrealmente o mesmo sol. O mesmo céu. A mesma manhã. O mesmo dia. As mesmas nuvens. A mesma paixão. Os mesmos beijos.
Quanto aos abraços. Por um bem apertado que acabo de te dar e você foi esmagada por mim, nos meus tentáculos pegajosos, na minha teia de aranha inofensiva que só quer a sua presa. Nas minhas presas de tigre-dente-de-sabre. Nas minhas garras te pegando e não soltando mais. Um grunhido felino. Um felino esbarrando na sua perna às 6 horas da manhã. Me ligue às 7. Me beije antes de ir trabalhar ou fique aqui comigo o dia todo pra gente fazer Amor e irmos ao nosso mundo, ao nosso ninho lindo-maravilhoso-cheiroso-com-gosto-de-bom-dia, depois te levo passear por São Paulo, depois eu caso com você em Paris e passamos nossa Lua-de-Mel na praia, onde eu vou te enterrar na areia e montar nosso castelinho encantado e enfeita-lo com conchinhas e estrelas do mar e vamos fazer biquinho pra falar francês, bem clichê, mon amour, mademoiselle, pardon. Bonsoir. 
Quanto ao Bom Dia. Com gosto de leite puro: alvo e gelado. Ou gosto de café: preto e quente. Bom dia pra ela. Por enquanto é boa noite, mas Bom Dia todo dia. Boa noite toda noite.
Boa noite-dia-tarde-madrugada. Tudo é bom com você. Tudo em você é bom. Imagina acordar ao teu lado e dizer: Bonjour.

                                                                   Uma flor. Um abraço. Um beijio apaixonado.

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