sábado, 21 de novembro de 2009

Numa tarde chuvosa.

E eu ainda continuava em insistir da onde é que vem tudo isso. De onde é que vem a insistência em amar o amor? De onde vinha essa vontade da busca por tudo que é meio artista, meio com saudades, meio apaixonado, meio decadente, meio noir? Esse misto de alegria e saudades. Tipo tanta vida que lembra a morte. Tipo se apaixonar.
João Henrique
Eu ainda continuava insistindo em tudo: em mim, em você, meu querido eu-masculino, em Tatuí. Comecei com meu texto com o começo do teu texto e tomei a liberdade nisso, pois mesmo sabendo que é teu, que saiu de você, o sinto como um pedaço de mim. Essa eterna conexão entre nós.
Nossos momentos são raros. E hoje, como uma raridade em essência que nunca mais se pode presenciar, passamos a tarde juntos. Meu amigo João, mas que tempo são esses nossos?
Bem, há muito tempo que eu não o via. Eis que de repente, não mais que de repente ele surge em minha casa, uma camiseta branca, tão franzino e único. Eu, no meu traje domiciliar meio mendiga, meio largada, descalça e descabelada, atendi-o. Tenho o direito(oras) de atender seja quem quer que seja no meu traje domiciliar. E acho isso muito bom, porque percebi que geralmente ando meio largada, um largada gostoso, de não esperar tanta coisa, esperando que alguma coisa chegue, mas até lá, meu bem, tenho o direito de estar confortável na minha maneiro de sê-lo. Atendi-o com um sorriso de saudade e um tanto de espanto: Ó, você está dirigindo mesmo, mas que bonicto. E ele nem tinha enconstado o carro direito, todo torto no meio da minha ruazinha: Acho melhor você estacionar direito, senão vão bater. Não arrumou.
Convidou-me para ouvir o cd que ele tinha gravado só com músicas dos anos 80, bem fossa, bem preto e branco num calor ardente de Tatuí. - A-ha, Cindy Lauper e não sei mais o que tinha. O calor estava mesmo de derreter, meu Deus. Eu suava. Que calor, eu hein. Não curto muito isso não. Agora que ele estava dirigindo, poderíamos passear de carro. Foi o que fizemos, peguei meu ray-ban-top-único-cassia-oliveira, meu chinelo novo vermelho, entrei no carro e fomos. " Podemos comprar alguns LA's avulsos, o que acha? "Adorei a ideia. Estava tudo encaminhado. O menino do meu mundo, cigarros glamourosos, anos 80,o que mais? só o calor, mas o cenário melhoraria. Pra começar, eu não acho legal fumar, é feio e te causa impotência sexual, necrose e o caralho a quatro. O facto é que, querendo ou não, a gente tem essa imagem cinematográfica charmosa do cigarro. E querendo ou não, não perdemos uma oportunidade para nos fazermos literários, cinematográficos charmosos e juntos numa tarde calorosa. O cigarro era mero detalhe de direção. E compartilhar momentos únicos com nossos amigos, ó meus senhores, é algo que não se paga, não se vê, não alcança qualquer registro a não ser aquele timbrado no peito e na memória.
Ah, como eu adoro. Chegamos na Av das Mangueiras... chovia e fazia sol. Sol e chuva ( casamento da viúva?) No rádio ainda o anos 80 fossa, a chuva la fora, as luzes tentando penetrar nas nuvens, e tal o faziam muito bem que ainda nos iluminava e fazia mais calor ainda. Engraçado, eu estava derretendo.
A gente acendou os únicos dois cigarros que tínhamos e conversamos por um longo tempo naquele bafo de fumaça, vidro semi-fechado, chuva lá fora, minha risada atordoada e algumas cinzas dentro do carro. E essa foi a imagem mais bonicta que eu guardei comigo. Foi um momento muito gostoso que parecia meio lento, vaporoso e abafado( e isso estava mesmo). Por que parece que uma bolha nos envolve e as palavras parecem ser tão nossas, tão colocadas; por mais absurdo que seja, a gente consegue um entendimento impressionante. Falar sobre coisas da vida. Nossos medos repugnantes, sobre Tatuí deliciosa que nos aconchega, e como sempre o mesmo assunto que nos atinge em todo, sobre as pessoas e paixões e amores. Dessa melancolia nata no fundo do poço que a gente exala. Porque daí se explica muita coisa, cada detalhezinho, cada medo que nos faz morrer por dias e viver um segundo só porque a gente viu os raios de sol entrando na folhagem. E voltar à ibernação ouvindo nosso repertório noir, meio cult, um quê de melancolia em sépia, desde Nina Simone ( um marco em nossas vidas), Tom Jobim, Chico Buarque, Adriana Calcanhoto e afins. Pensamentos. Voltamos alguns assuntos passados, que tomamos como referências: Ah, mas e fulano? E aí começa uma dissertação tremenda. Ah, mas e fulana? E começo a dissertação, repuxando lá no fundo do copo amargo os amargos e doces dessa vida jovem, meio velha, meio retrógrada e adoravelmente sofrida." Eu não sei, não sei no que sofri mais, acho que daquela vez foi muito pior...a gente acaba criando anti-corpos. " Mas que graça tem essas pessoas normais e felizes?" Bom mesmo é sentir aquele prazer na dor, na tristeza. É que aí sempre pensamos que isso pode nos render um bom texto, uma porcaria qualquer que nos satisfaça. " Mas estamos bem..." " Sim, estamos". " O que será agora?" " O que será depois? O próximo? " "A próxima?" . E todo um projeto meio mal feito de vida, porque, de repente, sentimos vontade de casar e ter filhos. Não eu com ele, por favor. ( embora tenhamos nos perguntado algum dia no passado: ' porque você nasceu mulher?' " porque você nasceu homem?" risos). Um papo bem - estamos velhos e maduros para ter um matrimonio e filhos... e tudo isso na nossa adolescência já um tanto passada- " Ah, como é chato começar tudo de novo" "Não é? Não to pra isso não" "Nem eu, não quero mesmo, essa mesma ladainha de começar desde o começo, que preguiça" " Eu quero uma pessoa só e pronto, nada de ficar procurando em todo mundo alguma coisa meio absurda" Ficamos conversando sobre tanta coisa, sobre nós mesmos, as pessoas, aquele papo denso que juntamos pra falar um pro outro, mas por incrivel que pareça, soa tão natural que até chega a ser leve e alegre. Sobre como a vida nos leva, jogados, sem absolutamente plano nenhum. " Mas isso não é bonicto? Essa chuva, esse sol raiando, o cigarro, a trilha..."
Não é bonicto? - Oras, cada um com suas crises.
- Ah, eu te acho muito mais bonicta do que ela.
- Sério? Nossa, sou tão sem graça e ela era tão... prática, selvagem.
- É, o P. também. Mas agora estou bem melhor, nossa... e isso já faz um ano.
- E eu reclamando de três meses. ( risos) Mas acho interessante, porque não tínhamos os mesmos gostos.
- Eu e o P. também. Ela não tinha essa coisa densa?
- Um pouco. Ela gostava de verão e eu de inverno.
- Ele era alguém normal, era prático também, sem poesia, nem literatura, não tinha essa coisa literária assim, que nem a gente.
- Que coisa. Esse mundinho.
E tantas conclusões, tantas coisas que ficam no ar, uma palavra que domina todo pensamento.
" Oh, mas é claro...é isso, ano que vem. Só pode" Ah. E ríamos.
No texto dele ele escreveu sobre de onde vinha a Coisa. A Coisa é isso mesmo da nossa natureza poética, meio densa, melancólica, bonicta acima de tudo. Dos nossos gostos. E a Coisa vinha dele ( de nós, me incluindo) e nós viemos de Tatuí. E isso é de um orgulho tão, mas tão, que me explode no peito. Tatuí.
Viemos daqui e voltamos sempre pra ver esse ar tatuiano e comer pipoca na praça, ver o chafariz da Av das Mangueiras, entrar na igreja da Matriz e ficar olhando as pinturas barrocas tão belas guardadas ali nela, naquele teto imenso. Eu sempre adorei aquilo. E o conservatório, abrigando aqueles músicos que vem de fora, os hippies taxados perjorativamente, o Café Canção da high society, aquelas palmeiras da Av Firmo Vieira que eu adoro quando passo de carro e finjo estar numa praia. Dessa música eterna que soa em cada um. Da gente, encolhido, tocando violão, bebendo cerveja na janela olhando as luzes laranjas dos postes, folheando alguma revista, comentando aquele livro, coisas absurdas tão nossas, tão eu, tão você, meu querido. Coisas banais de jovens. Coisas aleatórias que guardamos e achamos que aquele detalhe faz a diferença, que esse arranjo fica lindo, que aquele filme é tããão legal. E eu te disse que você me foi um marco na vida. Muito do que gosto hoje, se eu já gostava, passei a apreciar mais, e juntamos nosso gostos tão semelhantes, que nos deixaram abismados, porque tanto eu quanto você, nessa cidade que tanto reclamavamos, achamos que nunca encontraríamos alguém que gostasse de Nina Simone ou Frank Sinatra, alguém que lesse Lolita ou Presença de Anita em plena Tatuí. E a gente se encontrou, entre uma carteira, entre bilhetinhos espantosos e a partir daí é que nossa poesia e densidade se juntou e sofrer não foi tão ruim assim, porque sabemos que somos felizes, mas sempre com essa agulhinha no peito, esse incômodo eterno que embeleza a vida.
.ao som do silêncio

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O resto era ele.

Uma história qualquer psicografada.
Tudo o que havia nele era fumaça e um monte de dentes grandes. Você o olhava e via dentes e fumaça, que até seu corpo começava a pegar um pouco daquilo que saía dele. Menos os dentes é claro. Sentado num pedaço de toco de árvore, ele via o movimeno que passava. Pessoas, carros, cachorros. Ele queria rir de tudo aquilo. Não entendia tudo como um simples movimento, mas achava que era qualquer coisa num lugar qualquer. E isso ele entendia: que entender alguma coisa não o levava a lugar nenhum. A fumaça o cobria um pouco. Deveria ser do cigarro. Cachimbo? Charuto cubano? Um dia desses vi o meu avô com um, mas ele guardava com tanto zelo aquilo que resolvi não pedir pra fumar o charuto cubano, mas isso não entra na história. Era algum cigarro qualquer, de palha, daqueles que você mesmo faz, lambe e enrola. O meu avô também fazia desses...e mascava fumo.
Ele ficava sentado o dia todo naquele toco. Do jeito que ficava, até parecia ser aconchegante, de dar vontade de sentar com ele e olhar o movimento. E não dizer nada. Só sentir a fumava impregnando cada poro e de vez em quando se assustar com aquele monte de dentes na boca. E ninguém o cumprimentasse, talvez. Um ou outro que passava por ali. Até mesmo aqueles que passavam todo santo dia por ele não o cumprimentavam. Olhavam e desviavam logo o olhar, como se ele fosse uma coisa qualquer, quotidiana, como se fosse a continuação do toco de árvore, intacto, morto. Bem, pra ele não fazia tanta diferença ser comparado a uma árvore. Gostava delas. E sendo árvore ou gente, tanto fazia, como tanto fez. Se árvore pudesse fumar,ele até preferiria ser uma. Alguém algum dia o cortaria para escrever alguma coisa, ou algum cachorrinho imbecil mijaria nele, ou seria pintado até a metade de uma tinta branca, como essas árvores da cidade, que até hoje ele nunca entendeu porque pintá-las. Acho que também nunca pensou nisso.
Tendo ele ficado o dia todo ali, estava com dor nas costas e achava que poderia fazer outra coisa. E fez, mudou de posição. E assim ficou por mais um longo tempo. Um longo tempo.
E ai ele reclamou de alguma coisa. Acho que era de mim. Eu nunca consigo terminar uma história com personagens. Nunca consigo. É sempre jogado, seja como for, aconteça o que acontecer.
Então resolvi que ele vai ficar ali por mais um longo tempo, sentado naquele toquinho de árvore, fumando e mostrando sua coleção de dentes grandes.
O resto, o resto passava. Mal o cumprimentava. O resto era resto.
começando o ritual

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Essa saudade que eu sinto

Parece que com o passar do tempo algo aqui dentro se concretiza. A saudade aumenta e nada muda. Uma vontade imensa . Uma certeza terrível.
Todo indevido e devido momento me vem lembranças, vontades, saudade... Os dias passam.
Que triste poder esse do homem de não poder nada. Que tristes paredes essas que me guardam sozinha, sem a presença dela, sem ela, só eu. Que triste esse tempo de distância, tão cruel e dolorido. É preciso tirar prazer nisso tudo. É preciso " se sentir forte". E alguma coisa em mim, nesse meu interior meio oco, me diz que ainda nossos fios não se romperam. Sinto, como sempre senti. Mas também sinto essa distância, e não só a física, essa de estrada e árvores e quilometros por hora, mas uma distância natural de que algo precisa amadurecer. E não são minhas dúvidas, não é dúvida qualquer se o que eu desejo é realmente o que eu desejo, mas um amadurecimento de tempo. Minhas dúvidas tem certezas absolutas de pequenas verdades. Ah, tempo e espaço tão longe de mim. Leva-me daqui. Traga-me em algum lugar onde aquele perfume me pertence. O silêncio me remói. Ou me remoo no silêncio? Que lugar é esse que nos encontramos se não mais nossos pensamentos tingidos? Lá onde a primavera me acaricia o rosto vermelho, lá no fundo do nosso ninho intacto e meio abalado. Lá onde eu e você pertencemos. Naquela badalada de sinos que anunciam esse sentimento tão grande. Esse carinho que eu sinto por você. Essa saudade diária, quotidiana, medrosa. Essa saudade contida em lágrimas pequenas. Essa saudade remoida em palavras. Essa saudade que só é saudade porque ainda eu sei e sinto que nada em mim mudou a não ser essa coisa que me empurra sempre pra frente, onde tento tomar as rédeas, direcionar meus planos, sanar esse desejo de dragões no meu peito. Essa saudade, essa tristezinha que um dia me valerá o coração cheio de flores e espinhos. Porque é sempre isso, não é? As flores sempre vem com espinhos. Mas eu procuro tirar cada um, assim, delicadamente, sem pressa, no tempo dilatado mais dilatado do que nunca, como uma prova qualquer de cavaleiro que passa anos a procura do dragão pra mata-lo e salvar a princesa. Tiro cada espinho no seu tempo e sigo as pegadas que me levam... me levam.
A esperança e paciência me corroem. E cada dia pareço mais viva quanto a isso. Cada dia pareço mais forte e cheia de desejos. A esperança, grande amiga! A paciência, grande virtude.
Mas é o que eu sinto, forte, arrebatador. Esperando o único beijo que espero. O único tocar de lábios de veneno de tant o esperar. E se fiz por merecer, se não fiz por merecer, só esse, o tempo, o mais cruel e amigo, me dirá.
Só essa saudade que eu sinto. Essa saudade que me guarda e que guardo dos olhos que me encantaram tanto, do sorriso maravilhoso que desejo que esteja em mim um dia.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Eu só tenho um plano.
E é ir....
ir.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Dessa eterna falta do que falar

Senhores e senhoras membros do júri, bem vindos ao sol do meio dia. A luz cortando teu cerébro, cegando teus olhos. A luz te saúda.
Vou me embora pra Algum Lugar, lá sou amiga de alguém. Lá onde o bosque é verde e posso sentar tranquila me cobrindo com a terra e folhas secas. Como naquele dia de céu azul intenso, a luz entrando por entre os vãos das folhagens de árvores grandes, e eu me via me remoendo no chão, pinicando meu corpo todo. Me sujando, feito uma criança, quase comendo a terra de onde parti, a terra para onde partirei. A terra absurda meio alheia a tudo, onde nada fazia sentido nenhum.

Mas nada de drama. Esses momentos, essas películas de felicidades são a própria luz que cortam. E não deixo de sorrir, porque alguém ai nessa platéia microscópica, seca e retorcida, alguém aí há de me sorrir e novamente, meus senhores retorcidos, me verei triunfante por entre uma natureza selvagem. Arrepiando cada parte do meu corpo em todos os aspectos humanos e psicológicos.

Não é delírio. Resgatei aquela cena de ontem, do vinho e dos morangos. Restaguei por entre esse emaranho de teias algum sorriso, resgatei meu eu alegre, meu eu tão eu dessa baboseira toda.

Igual dizia meu senhor condecorado Cazuza: Estou cansado de tanta babaquice, tanta caretisse, dessa eterna falta do que falar.

Eterna falta do que falar. Não te parece óbvio? Parece-me óbvio e pesado.

Mas não é isso que eu digo. O que digo, apesar de não ter o que dizer, é que entre dragões e mares bravios, eu sou assim. Eu sou assim, à flor da pele, intensa e densa. Eu sou apenas mais um lado de mim.





ao som do vento balançando as folhas

domingo, 15 de novembro de 2009

Vinho branco extase chuvoso.

Um vinho branco, morangos com mel, um jazz e chuva. Não quis mais nada. Não quis mais nada, ali, sentada no escuro, e vendo os raios,clarões que iluminavam por segundos meu rosto cansado e sorridente. Comia vagarosamente os pedaços carnudos de morango e eu nunca pareci sentir a textura deles na minha boca. Eu parei por um momento e meu extase tão contido, meu prazer dentro de mim, e fora e chovendo, uma chuva gostosa que lá de fora me molhava. E eu me banhava de vinho branco. É importante que seja branco, adquiri um gosto especial por ele, não menosprezando o tinto, é claro. Cada um com sua beleza. Mergulhei a boca na taça e o azedo adocicado me embrigava aos poucos.
Mil pernilongos me mordendo. E isso foi um facto desgradável no meu momento extase guloso com chuva e música. Mas eu precisava mencionar isso, porque minha noite se deu entre escrever baboseiras de um trabalho e estapear minhas pernas, até explodir algum insectozinho chato chupador de sangue, borrando com pingos minha mão. As pernas com pontos coçantes, a cabeça com pontos pensantes e o extase por entre partes gritantes.
Partes gritantes, mas calmas, calmas e contidas, porque hoje me foi um dia bom. Esqueci de mim por um momento. E esquecer-se às vezes porque o peso parece menor, e as penas flutuam num patamar alheio. Parece que não tive pensamentos meus, eram vagos, flutuavam mesmo.
Lembrei-me de mim ao brindar-me. " Um brinde à Cássia Oliveira" E todos ergueram suas taças cheias, imagine isso em camera lenta, algumas gotas pulando pra fora da taça, os sorrisos embriagados como se fosse a última coisa a se brindar. A pessoa mais especial da festa à fantasia. Era eu. Era eu e lembrei de mim. Mas foi tão logo. Logo. Levantei-me de um sofá e fui para o outro. Os morangos já haviam sido degustados. Olhei para a janela e daqui se tem uma vista muito bonicta de palmeiras grandes. E como estava chovendo, o céu encontrava-se meio cor de rosa chuva e eu podia apreciar a silhueta das palmeiras dançantes e medrosas dos raios e trovões. Aí eu fiz o brinde. Depois sentei de novo e engoli os restos mortais do vinho. O salão todo em delírio.
Quis pegar um cigarro e fumar numa piteira bem longa. Sei lá, qualquer coisa que representasse. Então fingi que fumava. Soltei a fumaça com graça bem no rosto de algum monsieur que passava por mim, sorrindo, gracioso. As moçoilas todas sentadas nos sofás pomposos. Nenhum pernilongo me incomodava, nenhuma gota de sangue em mim. O céu num diluvio de rosa chuva. Rosa chuva vinho tinto morangos melados.
Quis dançar, mas não dancei, se é que dar alguns passinhos cambaleantes seja dançar, ai então podemos considerar. Apaguei o cigarro num cinzeiro. Ou joguei no chão e pisei com a ponta do meu sapato? Ou apenas joguei-o indiferentemente?
Um brinde.

preto e branco, na chuva cor de rosa chuva.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Passatempo Atoa

1 frase do meu dia:
. acho que vale a pena esperar pelo que é bom

3 coisas do meu dia:
. quem odeia o casal que fica se pegando na Letras?
. quem quer brincar de esconde-esconde põe o dedo aqui
. hoje eu não fiz bolhas de canudo

1 música do meu dia
. smashing pumpkins - tonight tonight

1 uma coisa que eu diria pra qualquer pessoa
. Chupaminharola!

2 coisas que eu diria pra mim
. Meu Deus, como eu sou linda!
. É foda ser eu às vezes.

2 coisas que eu diria pra você
. E pela minha lei a gente era obrigado a ser feliz
. Você quer pipoca?

2 objetos valiosos
. meu ray ban
. meu colar Pax et Bonum, meio mendigo

5 palavras
. alfabeto ( escrever isso é tão estranho)
. amora
. lapiseira
. unha
.amanteigado

1 estação
. outono (sempre)

algo que devo fazer agora
. calar a boca, sair daqui e parar de te encher o saco

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Os Olhos Cheios de Olhares

Um fato muito bonicto, meu querido, que eu queria te contar. Bonicto e singelo.
Era noite e eu estava esperando o ônibus ali na Consolação. Demorou um tempão para o ônibus chegar e eu estava atrasada pra aula na faculdade. A primeira eu não ia assistir mesmo, mas esperar me encheu o saco. Bem, o fato não é esse.
Olhei de soslaio e vi uma menina muito bonicta. Não me dei muita conta disso e coloquei-me a esperar o ônibus, olhando ansiosamente para todos os que passavam para ver se era o meu. Enfim, chegou. A senhoricta entrou também. Percebi que ela era realmente muito bonicta e que tinha os olhos muito bonictos e um cabelo também muito bonicto. Olhei-a e ela me olhou . Nos dispusemos no meio de muita gente meio apertada no ônibus. Ela ficou de costas para mim e um infeliz de um rapaz muito alto ficou bem na minha frente tampando qualquer visão que eu tinha dela. Eu conseguia, aos poucos, ver seu cabelo. Com o balanço do ônibus, os corpos iam pra lá e pra cá, e o rapaz que me ofuscava a visão saiu um pouco da minha frente. Percebi que ela se virou e me olhou. Ela teve a ousadia de se virar para trás para me olhar, e era pra me olhar sim. Um olhar meio tímido, não querendo denunciar a luz nos meus olhos. Não querendo que eu soubesse que ela me olhava. Os dois, aliás. E eu olhava para o teto cantando qualquer música que passava no rádio e quando me virava de novo para vê-la, ela estava me olhando e desviava muito rápido o olhar. Nos cruzávamos muitas vezes e aquela luz dos olhos dela congelava por alguns segundos na minha luz e isso me enchia de uma coisa muito gostosa por dentro. Bem dentro dos meus olhos. Assim foi a viagem toda. Eu rezava para que demorasse e o trânsito engarrafasse mais. Demorou, afinal, mas me pareceu de uma rapidez absurda. Torci para que ela descesse no mesmo ponto, e por ironia muito boa do destino ela desceu, subiu as escadas da História e se enfiou no vão onde não mais a vi. Fui pra minha aula com os olhos cheios de luz. Com os olhos cheio de olhares.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009


ao som de Gavota- Heitor Villa- Lobos






um sorrisinho de manhã não faz mal a ninguém

uma leve chuva

uma leve brisa

uma leve alma





sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Pandeguinha

Teresa, você é a coisa mais bonita que eu vi até hoje na minha vida
(inclusive o porquinho-da-índia que me deram quando eu tinha seis anos)

esse poema é engraçadinho
e hoje estou alegre pra coloca-lo
hoje estou alegre

ps: claro que ele é engraçadinho, pq ele se chama Madrigal tão engraçadinho.


hoje estou pândega

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Só estar melhor

Escrever me tem sido um remédio. Dores psicológicas reflectiram directamente no meu corpo. Dores de estômago, ânsia, mal estar. Passei a tarde toda ontem vegetando entre a cama e o sofá. Um calor danado, o sol brilhando intenso lá fora.
Nunca fui de ter dores de estômago. Aliás, nunca tive. De repente, num raio de duas semanas pra cá tive essas coisinhas chatas. Não consigo fazer nada, nem pensar. Aliás, não me sentia mal de todo, parecia que estava bem com minha mente. O dia estava lindo, porque diabos me senti assim?
Resolvi não me entregar. Joguei-me embaixo do chuveiro derramando água fria. Passou por uns instantes o mal estar. Eu parecia estranha no meu corpo. A água caia. Tentei sorrir e cantar, mas não saia nada. Fiquei quieta, o silêncio me fazia bem até. O silêncio. Não me entreguei. Troquei de roupa e fui, com muito pesar, para a padaria comprar Gatorade . Não tinha comido nada e já eram 6 horas da tarde. O sol estava ameno. Aquela merda de padaria não aceita cartão de crédito e então voltei resmungando pra casa, sem suco e atordoada. Caminhei bem lenta pra faculdade. " Devagar e sempre" , falava comigo. Um peso imenso em mim, um calor chato. Estava gostando tanto de ti, calor. Por um momento desejei que chovesse e me molhasse toda, resfriasse a cabeça, o coração, os olhos.
No fundo tinha algo remoendo aqui dentro.
No fundo a gente dói mais do que pensa. E pensar parece ser mais superficial do que sentir. Mas procurei não pensar nem sentir, deixei que as palavras fluíssem e como sempre, elas fluem. A vida flui. Você vai, jogado num rio, a correnteza te puxa, muitas coisas passam. E passou, levemente meu mal estar. Consegui voltar pra casa, dormi bem, um leve lençol pra me cobrir.
Hoje acordei bem. O mal estar havia passado, num passe de mágica. Como diria minha avó: " parece que tirou com a mão". Continuei sem comer, não senti fome. Me alimentei de água gelada. Um gosto meio amargo na boca. Me olhei no espelho e ainda me via estranha. Pensei que poderia caminhar mais tranquila hoje porque o céu está com muitas nuvens, nuvens grandes, e elas tampariam o sol forte e me fariam sombra. E alguém lá em cima me guardaria por um momento, me tiraria do fluxo intenso do rio e me deixaria calma entre a sombra das árvores sem querer nada, só estar melhor.