domingo, 15 de novembro de 2009

Vinho branco extase chuvoso.

Um vinho branco, morangos com mel, um jazz e chuva. Não quis mais nada. Não quis mais nada, ali, sentada no escuro, e vendo os raios,clarões que iluminavam por segundos meu rosto cansado e sorridente. Comia vagarosamente os pedaços carnudos de morango e eu nunca pareci sentir a textura deles na minha boca. Eu parei por um momento e meu extase tão contido, meu prazer dentro de mim, e fora e chovendo, uma chuva gostosa que lá de fora me molhava. E eu me banhava de vinho branco. É importante que seja branco, adquiri um gosto especial por ele, não menosprezando o tinto, é claro. Cada um com sua beleza. Mergulhei a boca na taça e o azedo adocicado me embrigava aos poucos.
Mil pernilongos me mordendo. E isso foi um facto desgradável no meu momento extase guloso com chuva e música. Mas eu precisava mencionar isso, porque minha noite se deu entre escrever baboseiras de um trabalho e estapear minhas pernas, até explodir algum insectozinho chato chupador de sangue, borrando com pingos minha mão. As pernas com pontos coçantes, a cabeça com pontos pensantes e o extase por entre partes gritantes.
Partes gritantes, mas calmas, calmas e contidas, porque hoje me foi um dia bom. Esqueci de mim por um momento. E esquecer-se às vezes porque o peso parece menor, e as penas flutuam num patamar alheio. Parece que não tive pensamentos meus, eram vagos, flutuavam mesmo.
Lembrei-me de mim ao brindar-me. " Um brinde à Cássia Oliveira" E todos ergueram suas taças cheias, imagine isso em camera lenta, algumas gotas pulando pra fora da taça, os sorrisos embriagados como se fosse a última coisa a se brindar. A pessoa mais especial da festa à fantasia. Era eu. Era eu e lembrei de mim. Mas foi tão logo. Logo. Levantei-me de um sofá e fui para o outro. Os morangos já haviam sido degustados. Olhei para a janela e daqui se tem uma vista muito bonicta de palmeiras grandes. E como estava chovendo, o céu encontrava-se meio cor de rosa chuva e eu podia apreciar a silhueta das palmeiras dançantes e medrosas dos raios e trovões. Aí eu fiz o brinde. Depois sentei de novo e engoli os restos mortais do vinho. O salão todo em delírio.
Quis pegar um cigarro e fumar numa piteira bem longa. Sei lá, qualquer coisa que representasse. Então fingi que fumava. Soltei a fumaça com graça bem no rosto de algum monsieur que passava por mim, sorrindo, gracioso. As moçoilas todas sentadas nos sofás pomposos. Nenhum pernilongo me incomodava, nenhuma gota de sangue em mim. O céu num diluvio de rosa chuva. Rosa chuva vinho tinto morangos melados.
Quis dançar, mas não dancei, se é que dar alguns passinhos cambaleantes seja dançar, ai então podemos considerar. Apaguei o cigarro num cinzeiro. Ou joguei no chão e pisei com a ponta do meu sapato? Ou apenas joguei-o indiferentemente?
Um brinde.

preto e branco, na chuva cor de rosa chuva.

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