Uma história qualquer psicografada.
Tudo o que havia nele era fumaça e um monte de dentes grandes. Você o olhava e via dentes e fumaça, que até seu corpo começava a pegar um pouco daquilo que saía dele. Menos os dentes é claro. Sentado num pedaço de toco de árvore, ele via o movimeno que passava. Pessoas, carros, cachorros. Ele queria rir de tudo aquilo. Não entendia tudo como um simples movimento, mas achava que era qualquer coisa num lugar qualquer. E isso ele entendia: que entender alguma coisa não o levava a lugar nenhum. A fumaça o cobria um pouco. Deveria ser do cigarro. Cachimbo? Charuto cubano? Um dia desses vi o meu avô com um, mas ele guardava com tanto zelo aquilo que resolvi não pedir pra fumar o charuto cubano, mas isso não entra na história. Era algum cigarro qualquer, de palha, daqueles que você mesmo faz, lambe e enrola. O meu avô também fazia desses...e mascava fumo.
Ele ficava sentado o dia todo naquele toco. Do jeito que ficava, até parecia ser aconchegante, de dar vontade de sentar com ele e olhar o movimento. E não dizer nada. Só sentir a fumava impregnando cada poro e de vez em quando se assustar com aquele monte de dentes na boca. E ninguém o cumprimentasse, talvez. Um ou outro que passava por ali. Até mesmo aqueles que passavam todo santo dia por ele não o cumprimentavam. Olhavam e desviavam logo o olhar, como se ele fosse uma coisa qualquer, quotidiana, como se fosse a continuação do toco de árvore, intacto, morto. Bem, pra ele não fazia tanta diferença ser comparado a uma árvore. Gostava delas. E sendo árvore ou gente, tanto fazia, como tanto fez. Se árvore pudesse fumar,ele até preferiria ser uma. Alguém algum dia o cortaria para escrever alguma coisa, ou algum cachorrinho imbecil mijaria nele, ou seria pintado até a metade de uma tinta branca, como essas árvores da cidade, que até hoje ele nunca entendeu porque pintá-las. Acho que também nunca pensou nisso.
Tendo ele ficado o dia todo ali, estava com dor nas costas e achava que poderia fazer outra coisa. E fez, mudou de posição. E assim ficou por mais um longo tempo. Um longo tempo.
E ai ele reclamou de alguma coisa. Acho que era de mim. Eu nunca consigo terminar uma história com personagens. Nunca consigo. É sempre jogado, seja como for, aconteça o que acontecer.
Então resolvi que ele vai ficar ali por mais um longo tempo, sentado naquele toquinho de árvore, fumando e mostrando sua coleção de dentes grandes.
O resto, o resto passava. Mal o cumprimentava. O resto era resto.
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