quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Desenho

Sua voz rabisca-me de vermelho cereja
ao mesmo tempo que o papel se amassa num molhado de lágrimas
E eu,que evaporo em fumaça de cereja,desenho-te
em riscos rápidos e fortes
como se eu quisesse que aquele desenho saísse do papel
e virasse você
em preto e branco
num lápis B6 já pequeno de tanto apontar
e o papel sujo,minha mão suja,você indiscutivelmente suja
porque sua beleza não é mais a mesma
uma beleza suja pelo tempo,pelas pessoas e pelo pensamento
Mas a voz..! Ah,a voz!
Inigualavel voz suave
de sono e de mãnha
que acorda aborrecida
com um pesadelo
com o telefone tocando
e limpa o rosto com uma mão enquanto se apóia na cama com a outra
E o desenho dança enquanto sua voz rouca ecoa
a ponta do lápis não é mais a mesma
nem meus dedos são mais os mesmos
porque você toda surgiu em cinzas num papel
o papel queimando no cesto
e as chamas,de início pretas e brancas
tornam-se um furor de laranja,vermelho e amarelo
e um azul roxeado que parece que sua voz
assoprou e assoprou e aquilo
queimou-me
as mãos,o peito,o rosto
e fiquei completamente surdo
e quente,
vendo que tudo aquilo tinha essência de cereja
vermelho cereja
que saia do seu lábio
do som doce do seus lábios que atingiam meus olhos e ouvidos
e todos os sentidos nunca antes sentido
quando você surgiu como fênix daquela chaminha já fraca
do desenho
do preto e branco que é minha vida toda rabiscada.

Um comentário:

AHF Campos disse...

A Beleza se ex-pressa no sujo. O Sujo. A estetica do sujo. Somos todos tão sujos e humanos. Humanos e imundos.
Minha Cara,
É bom revê-la tão limpa em cada letra, em sangue e batom de mulher.
Minha Cara,
É bom revê-la e dizer simplesmente oi.
André Campos.