quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

oh, são paulo toda está iluminada com as luzes do consumismo natalino e final de ano e fim do mundo.
a paulista com seus pisca-piscas coloridos verde azul vermelho amarelo e ursos gigantes papais noéis giratórios cortinas vermelha e verdes neve artificial nesse calor tropical do inferno derretendo minha casquinha mista do mc donalds. uma fila imensa de pequenos burgueses que negam dinheiro pros mendigos que vivem ali também para apreciar as luzes e eu também negando moeda e negando o resto todo porque somos brasileiros e não desistimos nunca. os sonhos hão de se realizar nesse natal. promessas para o ano que vem, listas de presentes, listas de desejos e carinhos e muita paz e amor e sucesso, porque é preciso ter sucesso na vida.
e pelo ponto de ônibus uma moça em seu vestido tomara que caia super colado e prateado, tomara que caia, pensamos todos, enquanto as luzes brilham as luzes se confundem de carros e prédio. mas a moça passa e acompanhamos ela com a cabeça ela passa meio rápido rebolando e então vemos uma tatuagem em sua coxa quase sua bunda vários escritos, ela é loira, pára, fala com alguém, virei a cabeça, voltei, ela não estava mais lá.
as luzes da cidade as luzes da ribalta. quanto dinheiro nessa porcaria toda. as moças que vendem o sorvete no mc donalds não participam disso. estão ali vendendo o suor com seus gerentes mesquinhos e infames igualmente sendo crucificados pelas multinacionais e tooooda sua façanha masoquista trabalhista. pois se lembre: todo trabalho são relações de poder, mesquinhas, sádicas.
mas agora a moda é montar brecht. acho justíssimo. foda. foda. foda. mas façamos alguma coisa. esse calor está derretendo nossos cérebros. ninguém ainda pensou na própria vida: trabalhar pra quem? do que temos medo?
eu vivia me perguntando isso. e pensava porque eu não perguntava sempre pra aquela ex namorada: do que você tem medo?
há coisas que devem ser perguntadas, embora eu ache que o silêncio valha mais, que, tá, tudo bem, vamos sentar aqui, acender um cigarro e ver todas essas luzes luminosas iluminadas com tanto dinheiro com tanta moral e tanta ideologia barata e toda manipulação suja que nos encontramos. nós em situação de risco de perder nosso próprio poder pra nós mesmos com nossas memórias curtas e nossos desejos insanos de sermos alguém na vida, ou melhor, de termos sucesso. não tive sucesso nenhum. meu sucesso é diferente do seu. mostrar o que a quem? esconder o que de quem?
mas pegamos nossos carros ou entramos no ônibus lotado ou ainda passamos por cima de todo mundo no metrô pra conseguir embarcar agora. já. não vemos nada nem ninguém, nem espaço físico, nem árvores, ar puro somente o negro e o cinza passando velozmente bem debaixo do nosso nariz e o mundo paralelo dos reflexos dos vidros da janela. essa janela dá pra onde, moço?
pessoas do mundo todo: onde é que há gente no mundo?
se alguém grita do seu lado ou cai desmaiado
e você mostra sua boa aparência por essa avenida, seu cabelo impecável, suas roupas cheirando amaciante, seu saldo positivo no banco, seu jantar romântico na sexta, suas fotos lindas no facebook com suas amigas lindas e loiras e seus amigos inteligentes da faculdade e então um cara se aproxima, desgranhado, com a mesma desculpa de sempre: com licença, não sou assaltante, mas preciso comer, tem algumas moedinhas? e respondemos juntos em coro: NÃO.
E saímos terminando de tomar nossas casquinha de sorvete suado e derretido. conversamos sobre coisas cultas e falamos de livros e filmes. todos todos
Será que temos medo das mesmas coisas?
compro seu medo
troco medo por celular novo
esqueço abraços
desamamos fácil
criamos para obedecer alguém
ser de alguém
servir alguém
ser leal fiel escudeiro
e termos educação
mas esquecemos de criar a nós próprios e sermos nós mesmos e servirmos a nós e sermos leais a nossos sentimentos e educarmo-nos. esquecemos
amor já não há mais. há luzes piscando. nossa memória está vazia no outro dia de manhã quando acordamos com sons de rojões e cornetas porque um time de futebol ganhou. eu não ganhei nada. ganhei o rosto oleoso e um pouco de olheiras matinais. compro meu suco de laranja, meu pão de queijo, vou ao meu trabalho com  ar condicionado escrevo qualquer merda e continuamos
continuamos o dia. é preciso ir. não sabemos pra onde. nem muito o porquê

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