quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Resumo Noturno de Insônia

Não ia começar meu texto assim, mas eu vi um prendedor de roupas em cima da mesinha de computador. Que diabos ela faz aqui, afinal? Também tem um lápis, papéis, uma coletanea dos primeiros cds do Chico, um copo, um celular e uma estrelinha de papel... (outras coisas também..._ mas a estrelinha de papel. Eu nunca tinha visto uma dessas, embora me falassem muito. Mas o prendedor... que coisa, hein?
Na verdade eu não sei como ia começar meu texto. Ando escrevendo muito assim, corrido. Ponto final outra sentença. Faz tempo que não escrevo poesia, como quando eu lia Drummond e me fascinava pela disposição desconcertante dos versos. Tentava imita-lo. Vou me moldando e vendo a Cássia nas palavras. Alias, a forma bruta não deve estar tão longe disso aqui, quer queira quer não.
" Os deuses..." falei sozinha e jogando as palavras.
Aliás, o deus é Dioniso e não Dionísio. Dionísio é adjectivo. Entendi isso, professor. E o deus latino é Liber, e não Baco, como pensei. Líbero, libertinos... ah, História.
O dia bonicto, o céu azul voltou a reinar, pássaros cantando, Cássia sorrindo, um ventinho aqui, meu sorriso ali, um passo lá, paranaue... Hahahaha. To rindo da vida.
Viu, deixa eu falar, olhei de novo pra estrelinha. Eu tenho muita, absolutamente muita coisa pra escrever, mas não nessas condições. Coisas sérias, pensamentos, mas preciso ativar isso com meu estado de humor, que anda muito bom afinal. Obrigada.
Muquifo, me conte sobre a sua vida. Você vive aqui, passivo, esperando-me. Eu sei que você é absolutamente a única coisa que vai me esperar nessa vida, ah não ser eu mesma, que também, quando eu morrer não me esperarei mais. Mas você, meu caro, meu confessionário engordurado, ideias, sonhos, pessoas, todo o amargo e todo o doce que aqui contem, cada gota de bile, dolorasamente é meu, enfadonho que seja, é meu e pertence a mim. A mim. Com exceções de algumas almas. Algumas eu apago. Borrachinha aqui. Meio borrado. Mas você...VOCÊ, me dói de tão belo. Uma pena não me ver crescer desde criancinha, chupando chupeta, mamando no peito, na mamadeira, ver cair meus dentinhos de leite. Fui uma criança adorável, no fundo. No fundo eu era já muito densa, com pensamentos densos, um gosto estranho. Que gosto estranho não morremos de vontade de experimentar? Diga-me. Vejo-me pequena, a franjinha reta, cabelo bem liso, sorrindo igual tonta, pezinho torto.... ah, bons tempos. Nem eu sabia de sua existência. Magina você da minha. Tudo aquilo que carreguei até aqui dentro de mim, tão pesada, tão transbordante, pra te achar e descobrir-me, afinal. Ver-me nua, indefesa, chorando pelos cantos, deitando em posição fetal e vendo apenas fumaças de incertezas e medos.
Não quero continuar essa história. Pelo menos não agora. Foi uma amostra de tudo que quer sair de dentro, te revelar, te saudar com beijos e amargos de vômitos literários. No fundo o meu eu que te entrego de mãos beijadas, querendo sair igual um monstro de dentro, e ao mesmo tempo todo tímido, com medo do desconhecido.
Um brinde à vida. Aos momentos que passamos. Ao amargo, ao doce, ao mosquito em aula chata que insiste em pousar na minha mão, às ironias da vida... às minhas palavras, primeiramente.

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