quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Desalinho

Então tá bom, é isso mesmo, pensei comigo. As ideias rodeando meus olhos cinzentos. É isso que foi um dia e não vai ser mais e escrevo isso com a luz do sol rasgando as nuvens nubladas e o frio de um dia quase parado. Eu posso ver tudo o que foi, com o pesar do cinza dos meus olhos ainda, que viagem é essa? Quem fomos? Não nos somos mais, mas fomos. E agora somos outras coisas. Não nos fazemos questão e quase choro, mas não consigo, estou mais sisuda, carente também, mas meu apetite agora é só por laranjas e leite puro e gelado. Não é de todo ruim, não me acho ruim, quem se acha ruim quando fica o dia todo na cama? Ninguém.
Então tá, é isso. Realmente agora tanto faz, como você pensou. Oh, eu adoro cuspir as palavras assim com minha postura incrédula, sem desalinhar em nada minha roupa, o casaco quase intacto no corpo quente, tremendo, fervendo por dentro, o suor escorrendo entre os seios.
O dia está caminhando devagar e não seria assim antes, seria ao contrário, ele passaria voando, eu comeria qualquer coisa, continuo comendo qualquer coisa e choraria de alegria sentada na privada, cagando e rindo do mundo, da putaria mundana, dos religiosos, dos ateus, dos políticos, dos idiotas, dos otários, quando somos tudo isso ao mesmo tempo e ao mesmo tempo nada. Com certeza você estaria pegando um cigarro num maço que eu comprei ontem e não fumei quase nada, estaria pegando um cigarro e tentando acender com um fósforo, chegaria na janela soltando fumaça e passaria uma perna na outra, levemente o pé por toda a perna, consigo vê-la, com um casaco novo meu, que parece velho. Enquanto isso eu cagava cagava todo o nojo do que um dia seria tudo isso, sabíamos bem, não nos importa mais.

Os azulejos do meu banheiro vertendo em carne nua sangrando chorando nossos lamentos, nossos amores perdidos, nossos amores que um dia virão e acabarão também, como tudo nesse mundo se acaba, e acabará a porra dessa porra toda.
Agora, adeus. O vento balança minha cortina. O vento leva a traz a poeira da rua que é uma poeira misturada com a parte de cada um de nós.

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