quarta-feira, 5 de setembro de 2012

viver é muito perigoso
já diria guimarães

é mesmo não se saber honesto nem inteiro muito menos bom mas nunca sabemos mesmo o que somos e o que devemos ser não sabemos mesmo depois de muito tempo o que fomos. o que guardamos é meia dúzia de abraços sinceros apertados inesquecíveis, um cheiro de infância, um perfume ou comida saborosa, e mais alguns sorrisos e beijos bem beijados quentes mornos aconchegantes e lembramos que gostamos disso mas isso é só uma parte nossa o resto está esquecido (in)felizmente em alguém ou em alguma coisa cada pedaço meu ali e mil pedaços outros em mim cacos pontiagudos redondos e coloridos dói se esbarra é preciso catar com cuidado com a ponta do dedo sentindo a superfície áspera porque se for fundo corta feito navalha fundo sanguinolento os cacos não se juntarão novamente nunca por mais que se tente haverá uma pequena passagem de ar uma fagulha que não se encaixa. a vida é uma arte ininterupta triste irônica ela dói sem se saber vida talvez a esperança ruim de morte não a sua mas do outro. a tristeza por estar só. a tristeza por estar junto. e cada minuto é um minuto a mais do passado e um minuto a menos no futuro e não se fez nada dele não se fez absolutamente nada porque não há grandes coisas a serem feitas que não comecem por pequenas simples e macias mas esquecemos de nos olhar esquecemos desse segundo pequeno que não cabe muita coisa uma lágrima salgada ou um pingo de água no rosto um toque uma piscada é isso que se faz nos pequenos momentos
os grandes são grandes demais pra se querer exato os grandes são grandes demais pra se apalpar na palma da mão com gosto e ternura os grandes momentos não existem é mentira são os pequenos que engradecem que viram um monstro mas nunca o contrário e continuamos sem nos saber continuamos com toda mala nas costas e não sabemos o que tem dentro delas calcinhas sujas roupa rasgada um chinelo gasto e embaixo dele um fio de cabelo grudado com um pedaço de chiclete.
e chegam os dias e as tardes e as noites e mais dias e tardes e noites e mais luas e sóis e nuvens e pássaros todas as folhas caindo e secando na terra e quanto pergio já passou por nós quantas coisas veja sua corcunda se atenua seu desejo sexual aumenta sua pele fica oleosa o cabelo cresce desproporcionalmente e as pontas parecem cabeças de medusa elas nascem sozinhas e se enrolam o cabelo é um outro ser alheio e ele gosta de carinho então apalpo meus dedos nele - e a vida passa - e ele gosta me prende. os segundos
a gente é tudo carente
 as coisas se definem no pequeno depois se desfazem para se definirem outras

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