meu coração anda seco como
essa chuva que não vem
da última vez que ela veio
-e veio pra valer-
meu coração transbordava
e meus olhos choviam tanto quanto
as árvores lá fora
alguns dias ela ameaça vir
e então alegro-me um pouco com
o dia nublado e o vento gelado
talvez eu encontre alguém no meio da tempestade
mas está tudo seco
sem pingos
sem abraços gelados
nem cabelo escorrendo pelo ralo
apenas
o passado que foi
e o passado que não foi
tensiono escrever umas mentiras
para que eu possa me dissimular
não me serve
mas pesa
meu coração
de mil novecentos e noventa
transbordando poeira
farto dessa campanha inútil
que as vezes caímos
campanhas amorosas campanhas sociais
campanhas pra termos leite
mas eu quero vinho
mas eu quero ficar no meu canto
mas eu quero alguma coisa
que eu nunca sei
que eu saiba, o que fazer?
se quando se sabe não há o que se fazer
daí inclino-me um pouco e uma lágrima cai no meu caderno
que anoto sobre um livro
enxugo rápido sinto o gosto salgado
uma gota que cai
parece ser o fim do mundo
quando chover
...
quando chovia muito
lá em meados de junho
eu chovia junto
meu coração
de mil novecentos e noventa
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