Do ponto de ônibus vejo as pessoas dançando por trás da janela. Rodopiam seus corpos, erguem os braços leves, o cabelo de alguma moça sobrevoa o ar frio que entra pelas frestas. Avisto uma moça de verde. Ela é a única que me chama atenção. Os outros são espíritos brancos pagando alguma promessa de corpo diluído. Mas ela dança bonicto e eu não vejo o seu rosto, que ela esconde do lado do rosto do rapaz que não é o lado que eu vejo. Eles dançam e eu a sinto sorrir com o corpo, com o movimento alegre, com o verde. Os outros não têm vida. Continuo não vendo seu rosto. Apenas seu cabelo e seus braços e suas costas. Queria dançar com ela.
Ela entrou por aquela porta ali, do outro lado da rua. O salão de dança é a parte de cima de um sobrado meio cinza, como todos os outros. Tem alguma coisa de vermelho nele e o verde que vem dela. O resto é branco. Os ônibus passam toda hora e nenhum é o qual eu pego. Pessoas entram e saem, brotam, vão embora, e eu fico. Olhando o olho mágico do tempo e ele só me engana. Volto novamente meus olhos para a parte de cima. Alguma coisa me diz que eu já vi isso antes, agora, aqui. Quem sabe... Alguém ainda do mesmo ponto de ônibus comenta sobre os dançarinos. É uma escola de dança, eu acho. Só os vejos da cintura pra cima. Dançam bonicto. A moça de verde sumiu. Espíritos rodopiam.
Pessoas em volta se agitam. O ônibus chegou.
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