À tardezinha, quando o céu começa a ganhar tons alaranjados, quando o vento sopra um pouquinho mais forte e o silêncio na rua é quebrado por latidos lá no fundo, por marteladas e passarinhos... acendo um cigarro que escondi atrás dos meus livros na estante, guardo o isqueiro no bolso pra fazer pose, ah! o céu, ah, essa terra que deus me deu, essa vida besta, meu deus. Lentamente fui deitando no chão sujo de casa, encostei a cabeça no degrau, eu de roupa folgada, quase uma mendiga, de pijama, meias laranja, chinelo fru-fru que ganhei da minha mãe, relaxo, e ouço a música entrando no meu corpo junto com a fumaça, eu sei, não me faz bem, mas quem se importa? se isso de ver o céu me faz tão bem, sou quase uma nuvem me dissolvendo com o vento. Essa cena linda do meu filme imaginário, quotidiano, realista surreal, que construo com minha própria imaginação de menina-que-fuma-por-graça. ( na sacada de algum apartamento, num dia qualquer, alguém diz que fuma porque acha bonicto...).
Simplesmente, às vezes, não há o que acharmos. Há o que há. E havia eu e o céu, ínfima como uma formiga, eu o admirava de barriga pra cima, o sorriso extasiado de canto. E eu não queria nada mais do mundo, só estar ali, eu com o céu na nossa partilha. Partilha.
E apaguei o cigarro e a música acabou. Mas eu ainda era toda céu, toda nuvem. Eu era muito mais do isso.
Para ler com More Than This - Norah Jones
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