segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

De manhã, levante a tampa

Tsc. Sei lá o que que ele pensa, pensei comigo. Sei lá eu da minha vida. 

um sono repentino me bateu, mas não quero dormir. o dia está lindo e eu não posso dormir. é céu azul.
no meu sonho sonhei que eu corria de um assassino, mas eu não saía do lugar. depois eu virei assassino e dei dois tiros à queima roupa num moço que corria feito uma gazela. havia ainda mais duas meninas comigo e elas viram meu ato cruel, também riram comigo. filmei-me matando o cara, não sei se ele morreu. filmei com um sorriso no rosto, um ódio meu escorrendo no sangue dele. depois me dei conta do que eu havia feito, ali mesmo, no sonho, e acordei suando bicas, no lençol limpinho da minha cama, a luz fraca entrando pelas frestas da janela. me senti horrível, um assassino de merda, um canalha, um absurdo. fiquei com medo. eu não tinha apagado as provas. a câmera, estava tudo ali eainda tinha aquelas meninas que estavam comigo, mas elas não contariam, pelo menos eu contava com isso. dormi de novo e tentei voltar ao meu sonho. consegui. a camera, a camera... onde está? tentei lembrar como era o cenário. era uma casa antiga, talvez abandonada. tinha um portão talvez de madeira, quase uma porteira, onde estava o corpo. me lembro que havia muita luz vindo contra meu rosto, então no momento do tiro, parecia uma coisa muito iluminada onde sumiu o corpo. a gazela. ele era alto e magro e usava uma camisa de flanela. não vi seu rosto. atirei nas costas, um na omoplata esquerda outro quase no meio, ele deu um grito de dor, o tronco indo pra frente, as pernas ficando pra trás. a cabeça, a boca bem no chão com tudo, fazendo quicar uma vez a cabeça mole. mas agora eu quero a camera e não acho, quem sabe em cima do criado mudo, na cômoda... tinha uma bolsa em cima do sofá, abri. lá estava a prova do crime, aliviei e tensionei ao mesmo tempo. que merda que merda que merda  liguei a camera, o vídeo da morte. dois tiros nas costas, risadas satisfatórias de assassinos, cúmplices de crimes. que horror! passei a mão no meu rosto, gotas de suor, e então apaguei o vídeo sentindo um certo alívio. as meninas haviam sumido. voltei pra fora, no pé da porteira, não havia mais corpo, uma poça de sangue. ele morreu? quem o tirou daqui? olhei em volta, a mesma luz forte fazendo arder os meus olhos suados, ardia. minha camisa de flanela também molhada, eu era um assassino sem provas contra mim. era um assassino. frio, nojento e burro. mas olhei para trás e vi um vulto saindo da porta de onde saí. acordei de repente e a mesma calmaria no quarto, um passarinho piando como sempre faz toda manhã, minha cara de asco, remorso, engruvinhada feito meu lençol, minha cabeça caiu no travesseiro e de repente voltei ao sonho e vi o cara que corria feito uma gazela, apontando uma arma pra mim, ele sangrando, cara de ódio, as duas meninas surgiram do nada na minha frente- eu não fiz nada, disse a ele, mas ele não ouviu, porque não saiu mesmo minha voz, você não sabe da minha vida, sei lá eu da minha vida, gritava e gritava, mas ele não ouvia, ele entendia meu olhar, um silêncio constrangedor, pensei que poderia correr, mas ele atiraria de qualquer jeito, as meninas quietas, rindo baixinho, silenciosa, não havia qualquer som nessa cena, virei-me em camera lenta em direção à porteira, o cabelo acompanhando o movimento em sincronia com as mangas grunges da camisa, tudo, tudo em camera lenta, até minha dor de assassino-morto, assassino-burro, a luz forte ficou mais forte me cegando completamente, senti a unha me perfurando a omoplata, uma bem embaixo logo em seguida, um grito parado, calado, horripilante, minha cara de asco, caí com a cabeça bem no chão de terra, quicou duas vezes. dois tiros também. duas meninas. dois assassinatos. o número não conta. sei lá eu o que conta. mas o número é pura coincidência, um ciclo vicioso de suor risadas malígnas. acordei era claro, sorri nervoso, respirei bem fundo sentindo minha dor tão real, meu remorso do sonho. sentei na cama e meus pés marcavam o piso do chão, levantei e fui ao banheiro, olhei-me ainda inteiro no espelho, ri de alívio, tudo bobagem e mijei um xixi eterno soltando minhas impurezas no esgoto.

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