sexta-feira, 26 de junho de 2009

Um furo, um frio

Acabei de perceber um rasgo embaixo do meu braço. Enfiei meu dedo e minha coluna arrepiou por causa do friozinho que entrou por ali. A gente percebesse que o coração também está assim, porque todo dia me dá esse friozinho por dentro, e é sempre minha mãe que costura. Acho que ninguém foi tão corajoso de tapá-lo. Alguém que não fosse minha mãe. Digo, alguém que ainda não tem filhos e ... nem eu sei. Agradeço sempre por ser quem eu sou. Afinal, minhas unhas estão vermelhas, e é a primeira vez que as vejo assim. Não virei puta, nem sem vergonha, embora quisesse... ser sem vergonha. Puta eu já sou desde que nasci. Todo mundo vem, deposita um pouco sentimento, deixa apurar, vai embora e eu continuo com o rasgo na roupa. Alguém me diga, há linha pra isso?
Borrei a maquiagem, de propósito. Vi-me completa. Uma puta com nome. Depositem tudo. Estou aberta, um furo ali, um frio aqui, nada que uma cachaça, uma noite mais ou menos bem dormida, uma agua gelada no corpo não resolvam. Afinal, eu não to falando de sexo. E se estivesse? Tenho quase vinte anos. Dei pra todo mundo, mas foram poucos os que receberam. Foram poucos os que eu realmente me dei. E aí, meu bem? E daí? Aprendi que o negócio sempre foi cuidar da sua vida.

- Pense mais em você

E eu cansei desse papo furado. Eu sei que eu sou nova, eu sei que tenho tudo pela frente e vomito se alguém me disser que tudo o que se passou não foi em vão. Não foi em vão porque a bunda deles não estavam na reta. E foi uma reta bem curta, eu digo, tão curta que pareceu longa demais, intensa demais. Todo mundo incansavelmente já sabe cada história de rasgo na roupa. Pergunto: cadê a consciência?

- Povo burro

E eu digo que o cu só não é mais burro porque o coração faz o trabalho. É ridículo demais, é pouca coisa pra um mundo construído. É absurdo esse negócio de " eu não quero rasgar mais sua roupa do que já está rasgada". Filmes poluem nossa mente. Mas no final é o que nos resta: chorar e chorar e chorar, tomar chuva dançando ao som do Gene Kelly e chorar e chorar. Com estilo. Afinal: merecemos sofrer decentemente. Já não basta essa roupa de mendigo.

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