segunda-feira, 29 de junho de 2009

É amor, sem paixão.

Eu precisava escrever, afinal, era o que me restava. Lembrar e escrever. Lembrar e escrever. Lembrar e lembrar...! Se a única coisa que eu faço é isso, vamos registrar lembranças. Meu esmalte vermelho estava descascando, e esse era o momento. Não terei outra oportunidade de escrever o que sinto justamente agora. Sabe, como essa mania de analisarmos e pensarmos depois que isso só nos fortaleceu e eu continuo viva. Bem, se eu não ler, isso realmente me derrotou. Mas a minha única esperança agora é que eu possa olhar para trás e pensar pra frente. As outras esperanças quero esquecer. Porque a gente também tem esperança de não ter mais esperança em certas coisas, e essa esperança eu realmente queria que morresse.
Aceito essa condição. Estou tentando ver o lado bom desse lado ruim. Sempre há. Eu digo: Sempre. Por mais que o teu coração esteja explodindo em milhares de pedaços e você ainda nem tenha encontrado o primeiro, mas, meu bem, acredite quando eu digo que existe o lado bom. Não morri. Ainda tenho meus olhos, duas mãos, sinto cheiros e continuo gostando de doces. Só não posso comer chocolate. Ainda escuto Chico e consigo não virar inteira lágrimas. Só não sei o que eu faço com esse monte de Amor aqui dentro. Vou doar e um pouco pego pra mim. Afinal, só eu sei o quanto cabe aqui e, querendo ou não, vou ter de me suportar pelo resto da minha vida. Não é um carma. É viver. E é tão maravilhoso viver que isso dói. Dói porque não estamos acostumados com isso. Dói porque o lados ruins prevalecem muitas vezes, não porque queremos, mas porque tem alguma coisinha cutucante lá dentro que fala: Isso dói e não sara. E aí vem sua voz que é tão forte como uma buzina de caminhão e grita o mais potente possível: Sai de mim, coisa ruim. Uma expressão como a do quadro O Grito - Edward Munch.
Eu sinto fome, e isso é um bom sinal.
A relatividade me doí às vezes, e dessa vez ela não me proporcionou.
Me olho no espelho e penso: Como sou linda, e eu morro de rir de tudo.
E pensei em rir da vida também. Ninguém vai fazer isso por mim. Estou tendo alguma chance que eu não consigo ver, ah não ser me empenhar mais nos estudos, me adaptar em São Pã, me amar mais, emagrecer, porque agora quero conhecer meus outros lados, e eu não me conheço magra. Hahahahaha. Quero ver até onde posso ir. Eu sei que posso ir até onde eu quiser, mas eu sei que esse querer e poder não é imediato. Estou fazendo meditações de como controlar minha vida e não ser tanto jogada ao acaso, ao Deus dará. Mas, querendo ou não, minha vida sempre foi assim, como um barquinho na correnteza, às vezes entra alguém, às vezes não, às vezes chove e é muito raro eu não chorar, mas choro porque estou viva e sinto, e isso me deixa mais humana. E isso não significa que eu chore apenas de tristeza. Mas choro porque sinto saudade, e se sinto saudade é porque o que passou foi muito bom, foi tudo muito mágico, e é isso que eu preciso fazer agora: mágica.
(Eu ri tanto, Deus. E isso me fez tão bem. Lembrei dos velhos tempos de escola, e de como em cada momento da minha vida meus amigos se fizeram presentes)
Porque tudo é da maneira que vemos.
Peguei na mão o último chiclets. E o amassei, e fiz bolinha, desenhei com a minha unha nele um jogo da velha. Um papel lamecado de choro e restos gosmentos nasais. É meu, apesar de ser nojento.
É, essa vida é realmente muito irônica. Eu percebi... me tirou um amor e me deu a minha camera de volta, linda, funcionando como antes, fotografando-me e fotografando outras pessoas. Aliás, se eu não posso ter uma, terei todas. Que meu prazer seja clicando enlouquecidamente. Que meu prazer seja lúcido. Nada de drogas, bebidas, maconha.. eu sei que não vou me encontrar nisso, nunca me encontrei. Tenho uma queda louca pela arte. E é isso que sempre me resgata quando estou no fundo do poço. Tons, cores, sons, instrumentos, livros. Incansavelmente, são sempre eles que me amparam e de repente me encontro novamente como nos velhos tempos, só que um pouco mais velha, mais madura, o cabelo mais armado, e com a mesma sede por viver, com a mesma felicidade louca e doentia. O que acaba acontecendo é : vou pensar mais em mim. Mas vou confessar uma coisa, eu já pensei tanto em mim, que se eu continuar assim, no final da vida acabo casando comigo. Eu quero olhos alheios. Quero cheiros diferentes. E sim, eu quero um tempo pra mim. Afinal, eu realmente preciso disso. Mas ó, nada de sacanear mais. Já aceitei uma vez, e vou aceitar sempre as condições que você, senhora Vida, me impõe. Como dizem: nada é por acaso. E vai ser delicioso sentir as coisas não como eu quero, mas como me impõem. Sem esquecer que estou meditando para me controlar, mas o barquinho ao Deus dará é inevitável.

Ela é realmente muito linda. Não poderia ficar feia depois que nos separamos. Ela é linda em tudo. Até para terminar comigo ela foi incrivelmente bela e racional. Livre e sadia. Ah, liberdade! Mesmo no fundo eu a querendo ver feia e ter muito ódio, mas isso foi um remédio imediato e não funciona nunca. Linda. Os cabelos bem longos. É sério, estavam incrivelmente longos e lindos. Parecia que não a via há anos. Pulei no pescoço dela e implorei para que voltasse. Diga que fui eu quem errou. Diga que a chama ainda está muito quente em você. Não deixe que isso se apague. E eu chorava feito um bezerro desmamado. Diga que ainda me ama. Diga que isso é tudo besteira, e você teve um ataque momentâneo de dupla personalidade... aquela outra que te invadiu da primeira vez. E que você ainda, ou pelo menos parte de você me quer, me deseja e fica cega de amores. Uma bola saía de minha boca. Quase uma bola de pêlos, e continha tudo o que desejava. Levantei minha cabeça e ela continuava falando, como da primeira vez, me olhava nos olhos às vezes, e eles pegavam fogo, me atravessavam, me comiam, e aceitei que seria assim. Nenhuma marca no pescoço. Nenhuma foto minha no quarto. E o quarto estava arrumado. Como se nunca antes eu tivesse entrado. Mas eu entrei, dormi com ela, a beijei, a amei muito, enlouquecidamente, no calor, no frio, com cobertor, de meias, de roupa, com água, e todo meu interior borbulhando. Mas aquele não era mais o quarto que abrigava nosso ninho. Não era mais o quarto que a fez chorar da primeira vez que eu fui embora... eu bebi sua lágrima. Ele parecia mais claro - ainda havia minha escritura na parede - ele ilustrava o que estava no coração dela, limpo e branco. E o meu ainda era vermelho vermelho vermelho vermelho... e empoeirado. Aceita-se faxineiras. Ela me parecia muito bem, muito bem mesmo, e isso me fez não chorar durante um bom tempo enquanto eu falava e ela também. Chorei no final, de charme também, enquanto a beijava pela última vez - gosto de chicletes e despedida - enquanto eu a abraçava bem forte, e ela me abraçava me confortando, mais como uma desconhecida que encontrei na rua, totalmente alheia, mas compreensível, do que a menina que me fez gostar dela duas vezes. Eu estava bem afinal, só precisava esclarecer algumas coisas e sentir de novo essa dorzinha. Mas sentir pela última vez.
Nenhum pranto os teus olhos me destes
nem te comove a dor da despedida
Pergunto- me agora: Que diabos é essa paixão? Se teve algo que me intrigou e me fez aprender mais uma coisa nessa nossa humilde vida foi que, para se ter alguém completo necessitamos de - como numa fórmula básica de matemática: Amor + Paixão. Pensava eu que vivíamos apenas de Amor, o resto era consequência. Mentiram pra mim. Mentiram legal, hein. Hahahaha, enganei-me. Enganei-me. Paciência. Bem, seguindo outra lógica, e isso é uma maneira de tentarmos entender nossos fracassos: dizia ela que, estava sendo metade nessa nossa união decadente. Ela = metade. Amor+ Paixão = Inteiro. Só amor, seria metade. Ela sem Paixão. Portanto essa metade que ainda sobrava era Amor. E era essa metade que eu achei que faltava. Mas é paixão, é o foguinho, o combustível, e isso o Amor não foi capaz de dar. Rebaixado.
- Gosto muito de você, leãozinho!
Estou bem, o coração continua, o temo urge, a vida passa. Você tem um lugar especial no meu coração arrítmico. E quero envelhecer contando que eu tive uma menina linda, que posava pras minhas fotos, meio sem jeito e paciência, e que odiava que a mordesse ou beliscasse, mas tinha um sorriso lindo e uma coragem que eu nunca antes vi na vida. Uma menina que adorava molas e caixinhas de música, e me fez gostar dela duas vezes, preciso enfatizar isso. Se não dá certo na primeira, força, que na segunda sempre vai. Ai eu já não posso dizer mais nada. Não sei o que virá depois. Podem até ser palavras ao vento, coisas bobas, mas é o que estou sentindo agora. E isso conta, não? Amamo-nos todo dia e não foi pra sempre. Minha menina! Você merece tudo de bom. Merecemos. Eu tenho um pouco do seu mel e do seu amargo. Te amo e vou deixar essa paixão ir embora, algum dia, pra sempre ou não, sem pontos finais como você disse, vírgulas talvez, ponto e vírgula, nova frase, novo texto, outro livro. Eu te amo e te quero bem. Não vou ter medos das chuvas, nem dos dias frios e cinzentos, gosto deles, afinal, só vai ser mais friozinho sem o seu calor de sempre, mas eu pego um cobertor bem quentinho e respiro bem fundo pensando que amanhã o dia pode estar ensolarado, que dentro de mim tem um sol pegando fogo.
E você é livre, vá! Fica bem, amor. Pela última vez deixa eu te chamar de Amor. Me manda um beijo por telefone pra eu ouvir o barulho do estalo. E as pipas sem vento? O que serão agora? Estou louca para ver. Encontra-te agora, que eu farei o mesmo.
E foi isso.

3 comentários:

Anônimo disse...

É ... poder ser sim, mas como semear paixão quando "apenas" se ama? Como plantar a paixão em dois corações q se amam reciprocamente? Mas, por alguma razão "esqueçeram" de se apaixonar!

Guilherme disse...

Bonito texto...
sinto-me como vc deve ter se sentido.
como é possível amar tanto e não sentir mais paixão?
Como a paixão pode ir embora e deixar esse aperto que parece destruir minha vida de dentro para fora...
é foda!

Larissa Paulista disse...

Lindo texto, me tocou na alma. Estou passando pelo que você passou...

Vivo um amor sem paixão. Eu a amo por inteiro, mas ela me ama pela metade. Ela julga me amar, mas não tem a mesma paixão. Embora com a paixão foi-se os beijos intermináveis, os abraços, o carinho e a vontade de sempre querer mais. Sobrou algo que ela julga ser amor e eu, amizade. Ela quer tentar, sua juventude inexperiente acha que basta fazer força que a paixão volta. Eu me sinto culpada pela sua falta de paixão. Ela acha que dá pra continuar, mas não percebe como doi ser renegada inconscientemente por ela. E eu fico aqui, na dúvida, se desta vez eu sigo outro rumo e cultivo uma linda e forte amizade ou se tento até acabarem todas as vidas e dar GAME OVER. Já passei por isso uma vez, passei por duas, agora estou na terceira vez. Não que eu tenha amado todas, mas por três vezes o trem da felicidade parou e elas decidiram me jogar na estação. E eu vou ficar com uma bela cara de tacho, na estação, esperando para ver se um outro trem vem, se uma outra pessoa me chama para viajar em sua estrada. E eu irei, sem rumo. Mas com as experiências, estou me transformando. Antes eu era uma feliz e sonhadora turista, da qual ria de tudo e vivia feliz pelo simples fato de ver novas paisagens. Hoje sou um caixeiro viajante, que se preocupa com o essencial, mas esquece de aproveitar o tempo de viagem para olhar ao redor.

Não digo que é triste um amor sem paixão, mas é quase impossível acreditar nele.