quarta-feira, 10 de junho de 2009

Mon outono, amour.

Era outono. E só de ser outono já se alegrava muito.
Era outro. E só de ser outro, o alegrava um pouco.
gostava de viver na própria pele
às vezes enjoava mas, quem não enjoa, pelo menos por alguns segundos,
de ser você mesmo... mas gostava.
Era doce. Era amargo.
Chocolate preto e branco: o branco
Com amendoin ou avelã: Avelã
Era alto. E por ser alto, sentia-se mais perto do céu. Podia voar.
Andando, mas podia voar. Correr também gostava.
Era outono e chovia muito.
Era outono e fazia muito frio.
"Fazia muito frio em São Paulo"
Era Paris ... e com as pernas subia e descia a torre.
Também era muito frio, mas ainda era outono. No inverno, quem sabe, nevasse.
Mon amour!
Dá-me tua mão
teu suor
teu outono
dá-me a água
...
E era água. E só de ser água alegrava-se por
poder ter o formato que quisesse...
era água e podia dividir-se em mil gotas
em mil partículas e cair lentamente
deixando reluzir o brilho do sol na pele aguada e macia.
Quis ser Vento
mas resolveu deixar como estava
pois ele adorava ouvir o vento passar e sendo o próprio vento
não o ouvira tão lindamente.
Era outono e chovia.
Mon amour.
Paris ainda é a mesma do que via
em quadros antigos
Modigliani, Utrillo
árvores, cabarés
Moulin Rouge e o anão
Era pintor. E só de ser pintor o deixava colorido.
Pintava-se como nunca antes havia pintado
os quadros tinham sua silhueta
a silhueta grudava em outras silhuetas
mais finas, outras robustas
roliças
pequenas, altas
E era frio em Paris. Não em São Paulo.
E pintava e pintava e jogarra tinta
como sangue jorra da artéria
e vermelho
e silhueta...
Era outono.
Era ele mesmo
e mais outros e mais outros
e nevava.
Era inverno.
Por fim, passou-se os pássaros pousaram na árvore adormecida
as tintas jogadas bailavam pelo salão e a cada tropeço,
era uma gota que ficava
de suor, de sangue
de água
de cobertor na neve.
Era primavera
porque só de ser primavera, florescia.
E cada flor que brotava era um beija flor que vinha
cada beija flor era um pretendente de amor
Era Amor, e só de ser Amor, ele não queria mais nada.
Andava descalço, bailava, era tudo.
Era verão, e o calor radiava em sua pele. E só de ser calor
sentia-se Calor e Amor
porque ele não poderia deixar de ser Amor
Não era Paris.
Mentira... era a própria Paris.
A Torre...o pico. E lá de cima, por ser mais alto e ainda ser alto
gritava:
Je 'taime, mon amour.
Amour?
Mon?
Quem?
E era dúvida. E da dúvida veio a certeza.
Ele próprio era mon e amour.
E repartia, e ambas as partes passeavam pelas ruas
era ele mesmo
era alma gemea.
Era outono
Era Amor
Um ciclo.
E só de ser um ciclo, sentia que mudava
e voltava às raízes.
E só de mudar, percebia que era outros. Outros nele.
Era outono e tinha um vento gelado
e tinha sol
e tinha água
e era apenas outono
e era apenas Amor.
Mon Amour.

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