terça-feira, 9 de setembro de 2008

Meu sangue ferve e minha cabeça lateja


Tatuí,9 de setembro de 2008.

Meu caro,

Tudo o que eu quero agora é que essa dor de cabeça passe.
Interminável. Há dias que estou assim... não,não tomo remédios.
Remédios são drogas. Mas não nego que já os usei.Quem não usa?
Não sei,mas minha dor está aumentando e eu nunca fui de ter dores de cabeça.
Sexta-feira passada fui doar sangue. Senti-me a mais sublime e solidária das pessoas.
Efusiva,emocionada. Na verdade eu estava fingindo que estava tudo bem,mas por dentro de mim borbulhava algo que eu nunca antes senti. É uma sensação absurda de fervidão com medo e emoção. Minha primeira vez de doar sangue. A - . A negativo. Só recebo de A negativo e O negativo. Que tipinho chato de sangue,hein?
Bem,o facto foi que,depois de ter doado,fiquei muito emocionada,vermelha,vendo meu sangue todo embaladinho naquela bolsinha trasnparente indo para a caixa de refrigerção. Ma-ra-vi-lho-so. Bem,ai as enfermeiras me deixaram de castigo por uns 5 minutos na cadeira. Mas eu estava bem,muito bem... podia levantar,correr,dançar. Fui até a cozinha para tomar um suquinho de laranja que elas me ofereceram. Alegre,contente e satisfeita. Coloquei o suco no copinho e minha cabeça estava pesada e minha vista escurecendo. Bem,aí eu sentei na cadeira e vi que eu estava com algum amigo meu. Eu estava na minha cama,dormindo tão angelicalmente que de repente,vejo alguém batendo no meu rosto e minha garganta numa ardência. A enfermeira assoprando-me acariciando meu rosto numa expressão de " volta,Cássia". Minha cabeça doía e doía.Eu não sabia onde estava e assustei quando pensei não estar na minha cama. Comecei a assoprar num saquinho plástico e dei-me conta que estava estirada no chão da pequena cozinha. Ah,meu amigo... era a primeira vez que eu havia desmaiado na minha vida. Mas foi uma sensação muito gostosa. Se eu não tivesse voltado,estaria dormindo um sono agradabilissimo,sonhando e sonhando. Porque eu realmente tive um sonho relâmpago e fiquei brava quando acordei com a enfermeira dando tapinhas no meu rosto. Eu quase falei: " Ah,deixa-me dormir". Mas dei-me conta de mim e da situação nada agradável.Bem, fui paparicada por pelo menos uma hora,sentada numa poltrona inclinável muito confortável,com um ar-condicionado na fuça e tomando chazinho com bolachas. As enfermeiras preocupadas,vinham toda hora conversar comigo e tivemos uma conversa muito agradável.Eu e a enfermeira padrão. Muito bela e simpática. E eu sorria,meio acanhada e envergonhada do acontecido enquanto ela perguntava: E aí,baixinha,melhorou? " . Baixinha? Alguma enfermeira já te chamou de "baixinha". Uma graça. Aí ouvi mamãe buzinando na frente e fui embora,alegre e contente e com a cabeça ardendo. Mas sendo uma doadora. Aliás,doar sangue me fez sentir mais humana,mais útil. Foi como se eu saísse de um estado intacto de ser e passasse a ser maleável. Nobre.
Bem,a partir daí minha cabeça fica latejando quando chega umas 20:00 h. Que seja.
Estava precisando me preocupar. Estou precisando escrever tanta coisa Talvez sejam as palavras entupindo meu cérebro e ele fica tão efusivo e borbulhante que começa a latejar.
Leite em pó,açucar e uma gota de água misturados,parece beijinho.
Doar sangue é uma loucura extasiante. Bem que eu precisava procurar outros meios de me embebedar. Embebedo-me literaturamente,fotograficamente,observando,desenhando,concluindo,escrevendo e às vezes no método tradicional: ingerindo álcool. De preferência vinho. Branco ou tinto. Vinho branco é bom acompanhado com uva Itália e cerejas na cobertura de chocolate. Divino. Vinho tinto é bom acompanhado de polenta com molho ou só com balas sete belo mesmo.
Minha dor de cabeça está passando. Também,desentupindo-a...o que não pára de doer?
O que é a dor em decorrência de nos sabermos? Quem nos sabe? Quem nos bebe?
Eu bebo tanto de mim mesma,mas embebedo-me dos outros. É como se eu vivesse em sede constante de querer absorver o próximo. Dedico-me inteira à mim e ao sentimento universal que rege cada partícula humana.


Abraços e beijinhos

e carinhos sem ter fim




Cássia Oliveira