quarta-feira, 16 de abril de 2008

Dionisíaca sozinha

Do que adianta você ter essa alma colada aos ossos, dessa carne errada.Sem o risco a vida não vale a pena.Se você não quiser arriscar, não comece.Isso quer dizer: e se você arriscar e perder namorada, esposa, filhos, emprego, a cabeça e até a alma?Mas é sempre melhor isso, do que olhar para todas essas outras pessoas que nunca acertam, porque nunca se propõem ao risco.
Johann Wolfgang von Goethe
Preciso urgentemente de alguma bebida com álcool. Digo,posso esperar mais algumas horas,posso aguentar o peso até não sei quando. Já planejei o momento crucial dos goles de vinho barato que espero que esteja gelado(apesar do frio quero tomá-lo gelado).
Eu tinha tantas coisas para escrever e parece fugir da cabeça. No porão úmido da minha memória,que parece resgatar aleatoriamente os factos e repuxar cenas lacrimais,tudo ecoa lento e agonizante.No cristalino cansado,vejo que a realidade não condiz absolutamente nada com meu mundo psicológico,paralelo,virtual e seja lá o outro nome que eu queira dar. Sinto que tem um dragão imenso que quer sair de mim,o que machuca,às vezes,suas garras e cuspidas de fogo.
Ígneo fantasma veste-se de tudo quanto é roupa,e eu ouço assim,lá no fundo do meu desejo,o mais crucial desejo,que o que eu desejo mesmo é vestir-me de fantasma.
" Navegar é preciso
Viver não é preciso"
Fernando Pessoa sempre foi (desde que o conheci,que não faz muito tempo) tão conciso e amplo,que falta-me o mais para descrevê-lo. Pra mim parece ser,ou melhor,tem que ser,tudo tão preciso e calculado. Pára,meu bem.Aonde você quer chegar ?Ou melhor,porque você quer retrair,involuir? O negócio é progredir,ó minha cara senhorita .
Precisava,de facto,contar tantas coisas,ó meus queridos irmãos e únicos amigos invisíveis. Estou fechada para manutenção,mas digo,agora,excepcionalmente nesse momento uma faixa preta e amarela passou sobre mim e me envolveu,tapando,um pouco mais que vagamente,o que eu desejava falar.E isso é ruim,vendo pelo lado que quando eu escrevo,melhoro um pouco. Devo estar absurdamente transbordando de idéias,o que dificulta um pouco a passagem. Bem,acho que algumas já saíram e as outras ficarão um tempo,sendo elas separadas em alguns capítulos (inevitáveis,porém indesejáveis).
O que me assusta mais sou eu mesma...e mais alguns olhos e palavras.
Queria escrever um conto totalmente adverso de mim. Sei lá,uma história sobre ratos que morreram no porão do navio,quando este afundou,por causa de uma baleia azul (FIM).
E esquecer de todo o quanto é ruim uma transição cretina de psicológico infantil- adulto e achar que o mundo deveria acabar para que nosso sofrimento inútil acabasse deveras.
Sofrimento sem fundamento algum.
Sofrimento como pretexto de alguma coisa,de impossibilidade,de qualquer micharia de alegria.
À noite estarei pronta para deliciar algum vinho. Um chocolate. Eu comigo.
Saudarei o deus Dionísio (esse nome me soa ambíguo,por factos passados que deveriam vir ao caso,mas achei melhor ocultá-lo),um ato pagão. E se fosse na Idade Média estaria sendo queimada ardorosamente numa fogueira mal feita de madeira com cupins amigos. E andarei na rua,cantando alguma coisa desconhecida.Esses sons que ninguém adivinha o que é,só para dizer que está em transe. Em transe. Trânsito. Transitar - Verbo Transitivo Directo.
Minha terra tem palmeiras.
Baco.
O Dionísio (grego,tão grego quanto resumido,durante três meses,em nada) que esteja muito saltitante e que,em algum dia de sua vida,num ridículo resgate rápido e nostálgico de sua mente,lembre-se com minuciosa saudade,de que eu,no momento mais doce e extasiante do meu ser,na noite silenciosa,não fui senão alguém tão indefeso e ansioso,que pararia tudo quanto é tempo e moscas. Mas é horrível a idéia de não ter controle nenhum sobre as situações (tempo-espaço). E se hoje estarei bebendo vinho,é porque minha boca e meu dentro pedia um delírio,mas naquele momento e tive que adiar(eu estava lendo) por motivos maiores e pelo lugar. Adiei para hoje e é hoje que me verto em lágrimas e gargalho feito um palhaço ridículo de um circo decadente.

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