quinta-feira, 20 de março de 2008

- Por favor,alguém me trás uma taça de leite.

Ah, eu gostaria de escrever como escritores de verdade. Como aqueles que têm o que falar e sua alma já está apta para isso.Eu queria ter a iniciativa que tem um escritor para expressar o meu íntimo dolorido e corroído.
Poderia abraçar quem fosse, dizer os mais rabiscados vocábulos sem depois não me arrepender de ter feito, mas eu me arrependo de não ter feito. Arrependo-me das coisas que não fiz. Arrependa-se.
Hoje o céu está azul com flocos grandes e pequenos de nuvens alvas. O sol ardente na pele, o cabelo espalhafatoso e os olhos vermelhos. O êxtase. O calor. O frio. O arrependimento. A normalidade e equilíbrio de humor (sem distorções, obrigada).
Não há extremos em mim. Há um incômodo pequeno que fica cutucando a mente.
Queria uma carona para ir embora. Estava andando e vi o homem que vende leite. Ele passa na casa das pessoas, com uma moto e uma carretinha com barris de leite. Então ele buzina e grita: Lêêêeeeitttt. Assim mesmo,com o T mudo,esquecendo o último E solitário e não menos importante da palavra.
Sinto que agora estou entrando em um mundo diferente, um rumo de vida e responsabilidade que eu não tinha. Rumo de pessoa adulta sem tempo para sonhar e brincar com o primo, brincar com o vizinho na rua.
Eu queria ter a iniciativa de alguém que vê as coisas mais simples. Porque as coisas são assim, simples por natureza. Há quem diga em complexos naturais, em números complexos, Complexo de Golgi, complexos psicológicos etc. E então tudo parece não ter fim e solução. Os fatos são todos jogados assim, aleatoriamente na vida. É preciso organizar-se sozinha. É preciso aprender com os erros. Será que um dia a iniciativa é tomada? Por mim, meu Deus, que sempre fui tão assim, egoísta e orgulhosa. Conservadora, medrosa. O contato entre pessoa, uma pergunta, uma resposta... Parece tudo tão difícil e surreal. Parece tudo haver uma fórmula, um conceito certo. Uma tradição milenar que não deve ser quebrada. O respeito e o desejo são coisas antagônicas que juntam - se em grãos e grãos. Há uma hora que se deve explodir respeitosamente esses grãos. Portanto vejo que, em mim tudo é muito dentro, é muito meu e não diz respeito a mais ninguém. Acho um incômodo de terceiros saber sobre mim, sobre minha vida e sobre meus desejos íntimos corroídos (não, não são tão corroídos, eles ainda permanecem inteiros).
Uma taça de leite bem gelado com açúcar. Balas e balas na boca. Overdose de açúcar.
Overdose de pensamentos. Meus êxtases diários de menina, doses de água, doses de palavras, doses de tudo muito junto e misturado.
Não se arrependa todo dia. Cada momento vai valer o arrependimento de ter feito o que queria.

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