sexta-feira, 9 de novembro de 2007

E ficou...

Sinto-me.
Simples assim....como uma verdadeira Cássia.
Não,verdadeira não,mas não superficial, e sim algo bom dentro de mim.
O meu verdadeiro pode ser várias nuances de comportamento,oscilações.
E essa parte deixa-me confortada.
E eu fico,fico na rua,pelo chão,no vento...tudo um pouco.E fica um pouco de rua em mim,um pouco da minha amiga,um pouco do cansaço e do sorriso.
E eu sou uma porção de fatos e pessoas.Uma mistura de idéias e pensamentos,e átomo,células,sangue,alma.Sou.
E os outros são um pouco de mim. E tem o meu andar naquela calçada.
Tem também uma palavra minha no caderno de alguém,e um abraço que fica para sempre.
Tem meu sorriso,tem meu perfume na blusa,um cabelo no chão.
Tem minhas digitais em algum copo sujo.Minha saliva de um beijo,de uma mordida e em uma colher.
Há também algumas palavras que pronunciei,duras ou doces,sensíveis,amargas,pândegas.
Há um pouco do sorriso da minha mãe em mim,da beleza do meu pai.Há também a chatice e amor do meu irmão. E há um pouco da minha ignorância,do meu jeito em cada um.
Os olhos da minha avó,que hoje já não são como antes. Estão mais murchinhos e continuam ainda tendo aquele brilho intenso de uma sabedoria imensa.De uma vivência inimaginável na minha memória.
A garra e ensinamento dos meus avôs. Que brincaram e me carregaram no colo,como se eu fosse a coisa mais importante naquele momento. Eu ainda não sabia que quando eu crescesse daria por falta. De um que se foi,mas o outro continua,com os óculos,o cabelo penteado,a graça e o encantamento que só ele sabe ter. Uma educação sem igual.
E os meus amigos que guardo com todo,mas todo o carinho e saudade do mundo. Há em mim o que é de melhor deles,e há neles o meu amor. Há aqueles também que eu nunca mais vi,e vem ainda hoje a lembrança daquela noite que foi tão especial.Há aqueles que me vêem todo dia e eu sei que daqui um tempo não os verei mais. E há em mim pessoas que eu nem conheço,que falei um simples Oi,que acenei na outra rua. Pessoas que eu encontrei quando estava viajando.Lembro-me de um senhor que conheci uma vez quando estava caminhando pela praia. Já era fim de tarde e estava ventando muito.O vi tirando aqueles bichinhos que deixam um buraquinho na areia,que sempre me escapam o nome. Então conversamos por um certo tempo.Fui embora.E a lembrança desse senhor ainda fica em mim. Assim como tantas outras.
E ficou a minha pegada naquelas areias,o voar do meu cabelo naquele vento.
Há um pouco de mim aqui.Não tudo,pois o todo se desfaz em minúsculas partículas.
E o que é de mim não é meu. É da vida...do agora que depois se transforma em momento e resíduo.É daquela pessoa que me viu passando,assoviando uma cançãozinha qualquer.
E esse papel de chocolate em cima da mesa já bancou influência.
A música que está tocando.
O telefone que acabou de tocar.
Os meus dedos.
Esse momento....que agora já passou.Mas está lá registrado. E também já passou.
E passou esse também...
e mais esse
e esse
ali
aqui
olha só.
Ficando...está ficando em você. Estou ficando em você,na sua íris,nas sinapses.
Quem sabe se já não ficou uma gota do seu suor em mim e uma lágrima minha em você?
E se eu passar sem ficar foi porque não aconteceu.Eu não estive.
Estou aqui agora.
Agora...
que já se foi.
Mas eu fico.



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