terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Poesia para tacos soltos de madeira

Aquele pó cinza
grudado no chão que
embola no pé
com ferpas e cabelos

eu sempre quis guardar dinheiro
no vão do taco solto
da casa da minha avó

ela encerava o chão
com aquela enceradeira enorme
e barulhenta

enquanto eu cortava os matinhos do quintal
com uma faquinha
pra ganhar 50 centavos
e comprar adesivos
na feira
de quinta-feira
na rua atrás da igreja
que eu ia todo domingo
pra ver a missa
com o padre Paulo
- ele era engraçado
mas demorava muito nos sermões

Qualquer casa hoje em dia
que tenha taco de madeira
com certeza
vai ter um taco solto
minhas homenagens aos tacos soltos

quantas crianças não quiseram achar tesouros debaixo deles?
quantos pés não soltaram o taco
qual foi o momento exato de
se soltar do chão?

o som oco
o som opaco
o som concreto
dos tacos

um salto alto no taco
um sapato executivo
um chinelo
um pé descalço
tênis molhado
sandália
ponta do pé
bundas
suadas

cada um com seu
ritmo
e melodia

meu grande
amor
aos tacos de madeira

marrons
descascados
amarelados
sugados

tacos
não mexicanos
que estalam
ao abrir a porta
e a pata do cachorro se enrosca
enquanto
procuro duendes
ou pequenas criaturas
- um tatu bola? -
debaixo deles.

Um comentário:

Bia disse...

taco o passado na cabeça e lembro.