Aquele pó cinza
grudado no chão que
embola no pé
com ferpas e cabelos
eu sempre quis guardar dinheiro
no vão do taco solto
da casa da minha avó
ela encerava o chão
com aquela enceradeira enorme
e barulhenta
enquanto eu cortava os matinhos do quintal
com uma faquinha
pra ganhar 50 centavos
e comprar adesivos
na feira
de quinta-feira
na rua atrás da igreja
que eu ia todo domingo
pra ver a missa
com o padre Paulo
- ele era engraçado
mas demorava muito nos sermões
Qualquer casa hoje em dia
que tenha taco de madeira
com certeza
vai ter um taco solto
minhas homenagens aos tacos soltos
quantas crianças não quiseram achar tesouros debaixo deles?
quantos pés não soltaram o taco
qual foi o momento exato de
se soltar do chão?
o som oco
o som opaco
o som concreto
dos tacos
um salto alto no taco
um sapato executivo
um chinelo
um pé descalço
tênis molhado
sandália
ponta do pé
bundas
suadas
cada um com seu
ritmo
e melodia
meu grande
amor
aos tacos de madeira
marrons
descascados
amarelados
sugados
tacos
não mexicanos
que estalam
ao abrir a porta
e a pata do cachorro se enrosca
enquanto
procuro duendes
ou pequenas criaturas
- um tatu bola? -
debaixo deles.
Um comentário:
taco o passado na cabeça e lembro.
Postar um comentário