segunda-feira, 8 de outubro de 2012

tem dias que as palavras não dizem nada
ou sou eu que não tenho nada a dizer

mas às vezes somos solitários demais
e ficar sozinho é engolir todos os pensamentos
e entupi-los com papel higiênico
igual se tampa o nariz escorrendo

milhares de pessoas e
ninguém se encontra
são poucos os que cruzam os olhares
e ficam
ou a todo instante ficamos cruzados no
olhar de alguém

as mãos se soltam
os pés pegam outros caminhos
de poeira ou de mato
asfalto sujo
o pé cansado
os pés se vão
 como se vai um cabelo se soltando da cabeça
com o vento
com o passar da mão
acariciando

milhares de pessoas e apenas uma
que te faça um espanto
apenas uma outra que dê um sorriso de leve com a boca
quase imperceptível sereno
existente no pingo de açúcar
do café da tarde
que se limpa com a ponta da língua

são as faíscas de viver
que te levam a cada segundo
andar nas nuvens
voar com os pássaros
se aconchegar na blusa gostosa de frio

e a lua está sempre lá
marota
perversa
iluminando as milhares de pessoas
que se trancam nos seus quartos mesquinhos
e escrevem sem pestanjar sua dor
e sua delícia

milhares de pessoas tomando banho
deixando escorregar o sabonete por entre as axilas
e os seios e os pêlos
milhares de pessoas já dormindo
sem sonhos ou pesadelos
apenas dormem
um sono cansado do calor da tarde
do sol
e da neblina que
constam num dia inteiro

a gente oscila com o tempo
a gente se quebra em pedaços
e se reconstrói outro
com cacos que nem eram seus
e estavam no chão ao meio das cinzas
de cigarros alheios
em meio a folhas secas e pisadas
em meio a insetos esmagados
em meio a poeira seca
com lama e cuspe e quinquilharias
com suor e outros cacos que
esqueceram de varrer

a ponta da linha
é grande demais para entrar
no buraco da agulha
recontorce revira
molha na língua
e entra

a cada instante estamos cruzados no olhar de alguém
que também se cruza no meu
e vai



Um comentário:

Anônimo disse...

maravilhoso. tenho amado seus poemas