quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Dos Pequenos Grandes Olhares
Que olhos eram aqueles? Grandes e brilhavam me sugando com a luz do mistério. Era eu e ela. Amaciava o rosto com a ponta dos dedos, macia a maçã do rosto, dei uma mordida de leve. Me olhava com ternura e tentava me decifrar. Talvez ela fosse toda aberta, enquanto eu me abria aos poucos, como uma flor desabrochando na aurora, sentindo cada gota de vento me tocando. Sentia cada picada do amor que me tinha, que a tinha e me dava. E eu retribuia, em gotas, gotas certeiras, como veneno de cobra. Cada picada era calculada. Me deixava ser como seria. E sempre é. Sempre fui. Sempre vou. Cortando caminho no mato denso que era a vida. Não, sempre fui pelo caminho mais demorado. Mas ía, no olhar, negro, que me cortava como foice corta a cana, em câmera lenta, dois dedos de distância, enquanto a boca queimava o ar em volta. Queimando-me.
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