Para ouvir com - Nancy Sinatra - Bang Bang
Eu queria um colo que me entendesse.
Um colo que me beijasse a testa e falasse que nem tudo estava perdido.
Era noite, em algum dia dessa semana, quarta talvez. Sim, era quarta-feira... e chovia. As chuvas tem sido constantes em minha vida. E muito raramente o dia chove feio. Apenas chove. Mas quarta feira era um dia embaçado, os olhos meio aguados, mas não tristes. Eu era triste, mas há coisas que não entendemos às vezes, e isso talvez se chame deslocamento e não tristeza.Quem sabe solidão.
Minhas maneiras de escape, minha válvula, minha droga são sempre essas palavras pobres, carcomidas, do fundo do meu devaneio noturno, das gotas velhas caindo da calha da minha casa. Mas ali eu vi que eu era realmente uma gota velha, tentando cair, mas ainda resistindo.
Havia alguns amigos, os olhos vermelhos, o sorriso falso estampado no rosto. Coisas superficias. A dor doía tanto neles que me doía de ver. Era coisa sem sentido, sem terra pra pisar, abraço quente faltando nos meus braços. Senti um frio na barriga e as ruas estavam vazias. Coisa típica de cidade do interior. Era um vazio que nos abraçou, não era um bolha densa colorida.
Havia um silêncio que pairava entre nós. Alguns quietos, outros conversando normalmente. Não era um clima acolhedor e eu queria era ir embora muito logo dali, deitar na minha cama, refletir minhas palavras, entender essa fumaça que saía deles, de uma maneira que sempre talvez me desse medo, que sempre me deu outras maneiras de sair de mim e não aguentar tanto o peso do meu corpo, não aguentar tanto o meu peso psicológico. Hoje eu sei que não estou livre disso e que sempre vou carregar comigo o peso do desassossego.
Eu era uma criança sem graça, os olhos vivos, sem jeito de sentar no sofá velho, as paredes vermelhas me atormentando de uma admiração pela cor. Mas aquelas pessoas. Aqueles olhos. Toda aquela gente perdida nelas mesmas, não que eu não fosse também alguém perdido, mas eles iam mais fundo. Eu sei que me perco, eu sei minhas dores e tento resgata-las. Eu sinceramente não consegui entender. Que pena!
Já era madrugada. Decidi voltar embora. Ali não era meu lugar, as pessoas que tanto gosto, elas, elas pareciam ser outras, elas tem sim outro lado, outro lado bonicto, vivo. Não morram! Podemos compartilhar coisas boas, momentos inesquecíveis sem achar que devemos estar boiando numa atmosfera alegre. Achar - parecer. No fundo corroe tudo, morfina, remédio triste para curar a realidade dura. Quero um colo!
Uma música soava de fundo, uma linha contínua passava por entre meus ouvidos, meu equilíbrio. Fiquei zonza. Esses conceitos me quebraram a perna. Essa coisa. Seriam meus escritos também uma fumaça? Por muito me interroguei sobre o que eu seria nisso tudo. O que sentia? O que me faz mais leve?
Um colo. Um colo que me desse leite na boca. Minha fumaça voava sozinha. Minha gota não caiu no chão cheio de folhas de outono. Folhas molhadas. Chuva. Pessoas perdidas. Eu andava devagar, tudo passava num filme mesquinho e ridículo.
Esses olhos! Tive aflição. Eu queria ir embora. Vim, morrendo de sono. Minha desculpa, que não deixou de ser verdadeira, de querer dormir, querer estar longe. Eu só queria entender e queria que entendessem. Mas então descobri que é tudo relativo e que a relatividade me doía às vezes... E que eu também era uma fumaça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário