domingo, 24 de maio de 2009

Ideias passam-me

Para Ouvir no Silêncio ou Violinos. Recomendo Violinos Silenciosos.
"Pensei, por um momento, que meu café solúvel no leite quente, com pitadas de canela, estava sem açúcar. E isso tinha aroma de música, mas música que não tocava, mas incrustava em mim, e evaporava em violinos e flautas transversais."


Só queria dizer que ela era, para mim, uma Ideia. Uma Ideia, não passava disso. Sem forma concreta, nem cheiro...um cheiro talvez, de qualquer aromazinho que se encontra em lojas exóticas, onde vê-se que Ideias transcendem como fumaça de incenso. Mas era uma Ideia. E tinha-me na mente, quiçá no coração, de cor e salteado. Mentira, não era de cor e salteado. Ideias não se deixam pensar em serem de cor e salteado. Repeti três vezes. E isso cravou-se em mim....a Ideia, não a repetição, que foi como uma reza, mais para me livrar do que para me benzer. Pensei comigo: Se ela é uma Ideia, ela não tem forma concreta, logo não posso tocar, logo é imaginação... não, não podia concluir que era apenas imaginação minha e unicamente minha. Ela tinha vida própria e vagava muito como bem quisesse por entre neurônios frouxos, neurônios intoxicados de Ideias-Drogas. Mas existia, não podemos negar. Existia, mas num outro plano, com distância de anos-luz mais alguns quilômetros . Num plano que não tocamos mesmo, mas sentimos, como um... como um alfinete que se acha com vida e fica se alfinetando na cabeça. Porque não era nada, não era sentimento algum, não era repulsa, nem amor, nem ternura, muito menos fogo, era uma Ideia, e elas são apenas isso, não vêm com pacotes adicionais, e sim cruas e nuas em pêlo.
Só vagavam quando queriam, e eu era obrigado a aceitar. Como se eu fosse uma estrada, que não escolhe os carros para andarem nela, mas estão lá, intactas e passivas, esperando pneus carecas ou novinhos, Ideias velhas , velhas, muito velhas, mas não tanto assim. E era assim que eu me sentia quanto a isso. O bom e velho Mundo das Ideias, muito fácil representado por algum desenho de primário. Não escolhemos, nem brigamos, só aceitamos, e é inútil lutar contra isso. Um dia elas se cansam, um dia essa Ideia vai embora, procura outras estradas. Só fico mesmo, passivo, intacto, enquanto corroem como líquidos corrosivos, nos canos que são pequenas fissuras na mente... uma Ideia-Corrosiva.

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