quinta-feira, 22 de setembro de 2011

às vezes
um feixe de luz me dá esperança
às vezes um feixe de luz
me dói demais
e me cega
às vezes renego a arte
como renego um remédio de depressão

nunca tive, talvez vestígios
mas se não fosse isso
de escrever e fotografar e poetizar tudo
eu estaria internada
num sanatório
numa casa de recuperação
e às vezes vejo o quão forte eu sou
mesmo sendo tão frágil
diante a vida

sábado, 17 de setembro de 2011

às vezes não sei onde colocar as minhas coisas
tem muito de mim
e metade se perde
é mutilado
tudo me cansa
as pessoas, a vida, o céu, o sol de tão lindo
a saudade, eu mesma
a rua, a fotografia, as insinuações
a literatura
a poesia
a dor o doce
o sal o óleo
minhas teorias caídas
minhas visões tortas de mundo
meu tempo dilatado corroído
tudo
ontem acordei como quem acorda
sem muitas esperanças
ontem ainda mudei de humor muito rapidamente
fiquei efusiva
cantei e conversei sozinha
como alguém que tem amigos imaginários

achei saudável
ela havia desaparecido
e só lembro dela quando
estou mesmo na carne viva de solidão
e ela mesmo me puxando a orelha
não me julga nunca por esquecê-la
e amá-la
amando a mim mesma

eu talvez não goste muito de me encontrar cara a cara
momentos de me suportar
mas é preciso
é preciso e eu vou até o fundo do poço
sempre

são muitas pomadas, gripe, dor de cabeça
sem pele
sem coração
meu cabelo está grisalhando
e poucos são meus anos
mas muitos quando penso
em mim pequena

não temos o direito de ser cruel com ninguém
nem faca, nem pudores decaídos
lilases os céus
e laranja no fim da tarde
nem o céu tem direito de ser cruel com ninguém
temos apenas que nos conviver
estamos no mesmo barco
não há ódio que se explique
mas há ódio que existe sim
há amor que existe
e nunca o explicamos
não é porque se é bonicto ou
tem o beijo macio e um sexo
muito bom
amor não se resume a nada
pode cair toda a cor das nuvens
e toda minha pele sair queimada
(ando queimada da vida)
podem escrever milhares de citações
mas digo
o amor não se resume a nada

o amor não se explica
a vida não explica
tudo dói
estou pairando na vida
nada o que fazer
apenas a tememos
talvez mais do que a morte

a morte resume todos os meus medos
e choro de noite molhando o travesseiro

suspirando
a falta de ar é muita
choro de inchar os olhos
choro de virar a fronha ensopa
e tornar a molhar o outro lado

sinto que não pertenço a lugar nenhum
não tenho família
nem amigos
nem amores
o meu pai está morto
e não o deixam descansar em paz

às vezes tenho muita saudade dele
e é uma saudade boa
um sorriso guardado no coração
às vezes fico mais perdida
porque a saudade dói
no sorriso que não tenho mais

a saudade é algo que dói muito
e nunca sabemos lidar com isso
por isso sempre tento ser serena e calma
tudo bem, vai passar
e não passa nunca
uma saudade eterna de alguma coisa que eu não sei

de um tempo que me parte
e parto sempre pra longe dele
me estraçalha
um tempo irônico
de querer estar e não poder
e quando posso já não é mais o mesmo
já não sou a mesma
ou sou a mesma desde sempre
intacta
parada

eu acho que podemos amar os outros
os outros são outros que me fazem ser eu
eu acho que podemos amar sim
e isso não pode nunca doer
amar até doer
amar e amargar

e eu amo, menina
amo
talvez não deixe nunca de amar as coisas
talvez não entenda nunca o que é amar
talvez não entenda nunca o que é saudade

eu amo e fico desnorteada
confusa minha cabeça
cheia de alucinações
meu coração todo partido
como corpo de caneta trincado
de tantas mordidas

ultimamente
tenho muita preguiça da vida