sábado, 6 de novembro de 2010

Cartas Tombadas - II

Mariinha

O que é você sem mim, Mariinha? Trigo sem farinha?
Ou eu que não sou sem você, Mari- Maria- Mariazinha?
(O sol nasce pra nós
logo assim que se põe?)
Não ia te dizer, mas o Lulu foi enterrado no quintal da Antonieta.
Ninguém quis, como você queria, enterrá-lo no cemitério. Que cemitério não é lugar de cachorro.
É lugar de gente ? - perguntei-me. Por que se for lembrar daquela cadela da Marieugênia... convenhamos.
E a vovó não quis enterrá-lo no quintal dela, que é onde deveria de ser, porque não queria alma de cachorro assombrando as plantas. Mas ela disse rindo, assim, na verdade eu não sei porque ela não quis. E a Antonieta já está velhinha, tem outros cachorros, não se importou de o enterrarem lá. Logo é ela que vai pro mesmo lugar... mas pro cemitério, que é lugar de gente, de gente boa. Quando eu morrer quero ser queimado e jogar minhas cinzas pelo vento e colorir as árvores de preto e branco. Fim. Mais nada. Nem verme me corroendo nem olho esbugalhando. Não fiz isso com o Lulu porque senão... iam falar que é tudo do contra, que é pecado enterrar cachorro em cemitério, mas que também não pode queimar o coitadinho. Nem o céu, nem o inferno. Queriam ele na terra depois de morto.
Coitado. Ah, que saudade que me dá dele quando lembro de você e que saudade de você quando me lembro dele. Como se fossem um só. Só que você ainda em cima da terra e ele embaixo. O que não é de todo ruim, porque você é meu vaso colorido de flores vermelhas. Você é as própias flores. Você é linda, Mariinha.

Você é a gotinha de água que cai da nuvem e eu sou a terra que você molha e guarda o Lulu.

Um grão de beijo roubado molhado de terra.

Um comentário:

Bruna Borges disse...

Que lindooooo.... Adorei teu blog. Agora te sigo.
Passa p conhecer os meus.
Abraço ;)