sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Sorriso imenso de beira de estrada ao chegar aqui

É isso. Pronto.
Há coisas que devemos decidir por nós mesmas.
Pensamento alheio. Off agora.

Deixa-me contar o sorriso. O meu sorriso.
A viagem toda vim olhando a estrada. Tantos anos fazendo o mesmo caminho e todo final de semana a mesma coisa. Nunca havia percebido tamanha beleza. Em meio à mata aquelas casinhas rústicas. Uma nostalgia me bateu na porta. Mas o céu estava lindo e azul. Eu tenho um derretimento por céu azul. Mas o mais bonicto, além do azul intenso e as nuvenzinhas brancas, era o contraste que ele dava com o verde da mata. E de repente aparecia outras casinhas, uma muralha de pedra. Nunca fui tão feliz numa viagem de volta pra Tatuí.
Tirei meu tênis, estiquei meus pés lá no alto. Me senti acolhida por uma bolha gostosa e aconchegante. Dormi só um pouquinho, o que é bom, porque costumo dormir a viagem inteira. O costume atrapalha nossas vidas. É difícil olhar depois, quando você acha que ja olhou tudo.
Estavamos perto, reconheço a estrada, fabricas, loteamentos, ceramicas, ferros velhos. O sol nos giuando. Entramos na cidade. A avenida, os bares-botecos, uma oficina ali. É no alto, então da pra ver uma boa parte da cidade, principalmente a fabrica de tecelagem velha e abandona, que eu nunca entrei na minha vida. Um dia eu entro, com certeza. Lugares velhos, abandonados e emepoeirados me chamam. (seria eu um lugar velho e empoeirado?) Vai o onibus subindo avenida, passando pela praça da Concha Acústica. Avistei uma menina que estudou comigo, que agora mora em São Paulo e faz dança. Linda. Ana Cláudia. Nunca mais nos falamos. Ela subiu e o ônibus virou. Logo a praça do Junqueira. Cesário Mota. A praça que costumavamos ir beber vinho, eu e os meninões, na nossa adolescência rebelde. Continua, atravessa a rua onze, uma rotatória, o conservatório, meio vazio, e chegamos na rodoviária. Calcei o tenis, sai, morrendo de sede. Chegando ao bebedouro avistei uma senhora com carrinho de sorvete. Corri. Ela atendia um rapaz, mas não escutava o que ele falava - eu não escuto o que voce fala, fique a vontade aí pra procurar... - e falou a mesma coisa pra mim: ... oia, tem de leite aqui, ali de frutas, pode ficar a vontade, viu?. Obrigada, respondi sorrindo. O rapaz tinha levado dois picolés de limão. Eu procurava um de groselha, mas não achei, nem me esforcei pra procurar mais fundo. Peguei um de côco. - tchau, obrigada, disse à senhora do sorvete. Era tudo o que eu precisava: um picolé.Não quero mais nada, ah não ser isso, poder admirar tudo, como se nunca nates tivesse visto. Subi a rua XV. Um sol, um calor, meu picolé de côco, todo branco e reluzindo. Doía nos olhos. Decidi não ir de ônibus até minha casa. Já fiquei sentada muito tempo num ônibus. ( um pra ir até a Barra Funda, outro pra chegar em Tatuí). Por isso, resolvi pegar a moto. Subi a rua XV, passei na frente do cinema e estava cheirando pipoca de cinema ( porque pipoca de cinema é diferente da pipoca que se faz em casa). Parei para ver o que estava em cartaz, apenas dois filmes. Um desenho e outro sei lá o que no metro. Toda alegre decidi que hoje iria ao cinema, quem sabe sozinha, quem sabe convidaria alguém, não sei, ainda é tempo de decidir. Pessoas andando pela rua e eu os saudava: Olá, povo tatuiano, estou de volta. Quem seria você? - alguém me perguntaria se me ouvisse. SOu eu, a Cássia, acabei de chegar de São Paulo, mas moro aqui. E então sorrindo o cidadão tatuiano me abraçaria. Povo tatuiano. Sorri muito, o caminho inteiro, tomando meu picolé. Durou acho que, três quarteirões. Cheguei atrás da igreja e joguei meu palito ali numa muretinha. Eu nunca faço isso, mas hoje resolvi joga-lo. Logo após tinha um carrinho de lanche e percebio que tinha um lixo. Burra, pensei, o que custava segurar o palitinho ate agora? Dane-se, joguei mesmo. Passei pelo carrinho de lanche do lado do Unibanco, e havia muita gente ali. Nesse calor, nesse sol, voces comendo um puta de um lanche. Oh. E eu estava com fome, mas fome de outra coisa. Cheguei no escritório onde o meu irmão trabalha, apertei a campainha, duas vezes e ele apareceu. Pedi então que ele me desse a moto. Disse que sim, se eu o fosse buscar às 5 e 30 da tarde. Sim, respondi sorrindo. Peguei o capacete, a chave, o documento e o controle do portão e fui. A cidade cheia de gente, eu e minha moto. Fiz o caminho que costumo fazer, indo por cima, pela Nova Tatuí, porque é um caminho mais bonicto e posso correr mais, sentir o vento no cabelo ( ou o cabelo no vento?) . É uma avenidona enorme que eu costumava fazer minhas caminhadas, mas ha tempos que não faço mais, agora só passo de moto ou de carro. Corri. Um pasto grande, algumas casas, o cééé azul. Que lindo. Respirei fundo e olhava-me no espelho para ver meu sorriso, porque era muito bonito, não posso negar, minha felicidade foi bela. Correndo com a moto comecei a cantar alguma música. Passei por aquela árvore que sempre adorei. É uma árvore bem grande, e parece árvore cinematográfica, por que em dias nublados ela fica muito bem. Ela é seca e eu nunca a vi com flores ou folha. Até hoje. Surpreendi-me e até voltei minha cabeça pra trás para ver se era verdade: a árvore estava mesmo com folhas. Continuei correndo e sorrindo. Um muro novo ali naquela empresa, ai que chato, pensei. Virei, passei em frente a polícia, virei de novo e peguei a avenida mais vazia que eu tambem adoro, a rua deserta onde tem uma ceramica velha ( que até hoje não sei se é abandonada). É uma rua que dá para os pinheiros. Eu sempre faço esse caminho e ele é sempre muito bonicto. Cheguei no meu bairro e fui pela rua do ponto de ônibus, na esperança de ver a menina do ponto de ônibus. Nada. Nunca mais a vi. Que pena, ela me sorria lindamente, e os sorrisos sempre me derretiam. Como se nos conhecessemos há muito tempo. Desde a primeir vez ela me olhou muito lindo e então passei a retribui-la com olhares e sorrisos. Por onde andas, menina do ponto de ônibus? Há dias que passo e nunca mais te vi. Apareça, mande carrta, mande um sorriso, por favor. Olhe pra trás quando passar por mim. - Não a vi. Dessorri por um momento. Mas logo cheguei em casa. Minha casa. Entrei correndo porque precisava muito fazer xixi, e esse é um problema que tenho. Fico desesperada, não consigo achar a chave, preciso sentar e respirar. Abri e entrei. Um frescor de casa minha invadiu-me, bateu-me no rosto, no cabelo, os pés, o nariz. Invadiu-me. Abri todas as janelas pra deixar a luz entrar, como ela deve entrar, me iluminando. Estou tendo momentos agradáveis com iluminação em geral. No jardim que não é um jardim, que dá pra janela do meu quarto, nasceu uma planta e agora ela está florindo. Florzinhas pequenas e arroxeadas. Vou falar para não a cortarem. Preciso plantar algo ali. Um pé de amora? Seria lindo. Cerejeira? Também. Rosas, copos de leite, tudo tudo tudo. Vou plantar meu sorriso que cultivei a viagem toda. Vou me plantar ali. Seria eu uma flor? Que nada. Admiro-as, de facto. Admiro tanta coisa. Agradeci mesmo por eu ter olhos e ouvidos e poder ver todas essas cores e poder ouvir músicas bonictas, agradáveis.
Agradeci por estar de volta. Agradeci por estar em São Paulo também. O que seria daqui se eu não estivesse lá? Agradeci por tudo, porque afinal, tenho tudo o que eu preciso. Não peço coisas absurdas. De vez em quando talvez, é bom sonhar. É muito bom sonhar.
Tomei um banho ouvindo música bem alto, como sempre faço. Corro pela casa, danço, faço careta. Vim escrever, porque eu precisava dividir isso, meu empoeirado quarto, e ninguém melhor do que você prame ouvir. Nada melhor do que eu mesma pra saber das coisas. Senti um egoísmo ai. Você também, né. Estou assim hoje. Acho que vou mesmo sozinha ao cinema. Não é que eu nego as pessoas, elas me negam, então não faço muitas questões de algumas coisas. Na verdade eu tenho preguiça. E ver o que é belo não custa-me nada. Acresceta-me.
Atémais vê-lo, senhores. Senhoras, me desculpem, mas hoje estou pra mim. Hoje estou pra Tatuí. Quem sabe amanhã. E vai indo que eu não vou.

Um comentário:

carneiro de fogo disse...

ah. que lindo é poder ver tudo de novo e enxergar isso tudo.