sábado, 14 de fevereiro de 2009

Eu na bolha assustada

Eis que dos meus olhos começam a escorrer aguinha. Tive um medo tão forte e repentino. Eu nunca senti isso. Eu queria alguém do meu lado, eu só queria um abraço bem forte. Um abraço apertado e uma voz que me dissesse: 'Calma, meu anjo, estou aqui, não vai acontecer nada.'
Era eu, sozinha, em ruas escuras, morrendo de medo e pensando " calma, eu já vou chegar em casa". Não era medo de assalto,mas era um medo indicritível, era como se eu em questao de segundos voltasse a ser uma criança indefesa, precisando de ajuda. Uma criança que só queria colo. Não sei,minha mente retrocedeu.
Começou mesmo quando entramos naquela festa desconhecida, numa casa desconhecida, com pessoas não tão desconhecidas porque era um povo estupidamente mediocre da minha cidade. Era outro mundo. É outra a vivência que eu tenho. Senti asco de quase todos...porque ainda amigos meus que me acompanhavam, pareciam estar comigo numa bolha única, que era só nossa e só nos entendíamos. Não nos enturmavamos, porque simplesmente havia uma repulsa natural, havia outra coisa que eu não entendia. Nunca suportei essas festas que chega todo mundo bebendo e fumando e tocando música que todo mundo ouve e eu nunca sei a letra. (aliás, voce aprende a letra em um minuto, porque é sempre a mesma coisa em todas as músicas) . E aí todo mundo faz uma social, dá uma de ' eu pertenço à essa tribo', eu bebo e cato mulheres e por issos ou aceito nesse meio". Oh..há tempos que eu não via essas coisas. Fiquei assustada...fiquei sim, não vou mentir. Nos meus tempos remotos de adolescência eu sabia o que era isso... nunca gostei dessas coisas. Mas eu ainda estava para conhecer, tinha lá meus 15 anos... e pensava comigo: Como é possível? Sou só que me sinto deslocada ou são eles que se deslocam em massa?
Eu nunca entendi isso. Sempre tive repulsa por essas pessoas, embora eu não as maltrate. So me afasto...! Aliás, eu acho que vivi tanto em mim, tanto das coisas que eu faço, que eu vivo e leio e conheço que não dá pra aguentar. Parecíamos uns nerds no nosso canto. Pior que única vontade que tinha era sair correndo dali, ligar uma Nona Sinfonia, pegar um livro e viajar horrores, ou ter uma conversa legal com pessoas do mesmo nível ( de convivência e pensamentos)... é simplesmente outromundo. Não tem como explicar, é muito surreal.
Chorei...chorei muito quando finalmente me vi só no quarto na minha casa, sã e salva do mundo lá fora. Devia estar com os olhos bem grandes de medo e susto. Olhei-me no espelho. Enquanto eu chorava eu pensava: ' mas o que é isso, hein?' Foi muito involuntário, de repente meus olhos quiseram chorar. Mas eu precisava mesmo desabafar.
Ainda preciso... eis que junta tudo num mesmo bolo de sentimentos: medo, saudade, angustia, repulsa, solidão, carinho... ! Queria todo mundo aqui comigo, pra eu ouvir a respiração de todas as pessoas que eu amo e pegar na mão e sentir as coisas mais simples da vida. Tocar mesmo e sentir. Há tempos que eu não tinha crises nostálgicas. Tive uma recaída. Fiquei supresa com isso... ainda há a criança em mim, ainda há muito de velho em mim, e eu sou uma mistura de várias palavras e sentimentos... Eu sou um mero humano, eu sou o medo, a saudade,o amor, a amizade, o ódio, o asco, a feiúra, a beleza, ternura, eu sou cabelos, mãos, olhos, eu sou o céu, o outono, eu sou fotos, eu sou cheiros, sou dedos e unhas, sou livros, sou músicas, sou peças teatrais, filmes, sou papéis higiênicos usados, a lasca de unha em cima do braço do sofá, eu sou a fumaça, sou a ânsia, a marca, uns cílios, um beijo, sou noites em claro, sou estrelas na noite, alguma do mar, sou areia movediça, sou ondas, eletromagnéticas, de rádio e de calor, sou o calor, mas sou o frio, eu sou o frio, o frio... eu sou o doce, meio amargo, pouco salgado, sou a água natural, às vezes gelada, sou o gosto de pasta, sou azeda, sou limão com sal, sou vinho tinto, branco, seco, suave, azedo... sou vinho barato, sou whisky, sou pedra de gelo nas costas, sou o pé asqueroso, o pé macio, sou o cotovelo ressecado, sou a filosofia, a minha filosofia, quem sabe a sua, eu sou um rato de laboratório, sou um gato abraçando um cachorro, sou ela, sou eu quem gosta dos eus, sou as outras que gostam das outras, sou eu quem gosta de tudo, de nada, seleciono, eu sou a fome , eu sou sede sou faminta sou insaciavel, sou gula, sou sorvete de sonho de valsa com creme rocher. Eu sou um doce. Eu sou um vento no pé do ouvido. Eu sou a Cássia. Muito prazer, não volte muitas vezes, não saia pela porta da frente, não seja um corpo asqueroso vendido ou gratuito. Faça dos seus olhos outro mundo para quem quer conhecê-lo. Os meus... os meus derramam lágrimas e sorriem quando querem.

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